Análise Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged (PS5)
Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged melhora tudo em relação ao primeiro jogo e ainda trás novidades interessantes para essa sequência.
Em 2021, a desenvolvedora italiana Milestone — conhecida pelas séries de jogos MotoGP, Monster Energy Supercross e Ride — lançou o divertidíssimo jogo de corrida em miniatura Hot Wheels Unleashed.
Quem se aventurou por suas pistas coloridas pôde ter um gostinho de tudo que elogiei no meu review na época: ele era um arcade muito competente, com pistas criativas, fácil de jogar (mas desafiador quando experimentado nas maiores dificuldades) e com miniaturas muito detalhadas.
Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged repete essa fórmula de sucesso melhorando todos os seus pontos positivos enquanto se livra dos vícios que o primeiro tinha no lançamento, além de acrescentar algumas mecânicas novas bem interessantes que mudam a dinâmica de jogabilidade em relação ao primeiro game.
As duas primeiras grandes modificações são a introdução de um botão de pulo (e pulo duplo) e a habilidade de realizar um dash lateral, que pode ser usado para desviar de obstáculos ou para acertar lateralmente inimigos fazendo-os perder checkpoints ou mesmo tirando-os da pista totalmente. Esses dois novos comandos são atrelados barra de boost do carro, mas quase sempre é mais interessante nocautear um inimigo do que ultrapassá-lo usando mais velocidade — eu garanto.
Outra novidade enorme é que agora existe uma árvore de habilidades em que melhorias podem ser adquiridas para cada veículo e isso dá toda uma nova dinâmica de gameplay.
Além das raridades (Comum, Raro, Lendário, Super Treasure Hunt e Secreto), que são específicas de cada miniatura e que determinam os seus atributos de Velocidade, Aceleração, Potência de Frenagem, Manobrabilidade e tipo de Boost, os veículos podem ser melhorados dentro de 3 categorias: Popular, Energizado e Supremo.
Essas categorias representam quantos modificadores, ou perks, podem ser equipados em cada veículo. Todos os veículos começam Populares, com um espaço para 1 modificador, enquanto miniaturas Energizadas podem equipar 4 habilidades e carros Supremos podem equipar até 7 perks.
Então é vantagem que todos veículos sejam elevados à Supremo? Não, de forma nenhuma. Algumas provas exigem miniaturas de categorias específicas e também de tipos definidos — que aqui são 5: Balanceado, Drift, Pesados, Subcompacto e Alta Velocidade.
Então você precisa ter um cota de veículos que supram essas duas exigências (às vezes ao mesmo tempo) para correr em certas competições. Essa é uma forma inteligente que os desenvolvedores encontraram para “forçar” o jogador a experimentar um pouco de cada tipo e categoria de miniatura e não se ater apenas a um veículo único durante toda a história.
E falando nele, o modo história foi reconstruído para não ser apenas um amontado de corridas single player, mas sim um conjunto narrativo coeso que realmente conta uma história com personagens e seus motivos para enfrentar os perigos de Turbocharged.
Não espere uma narrativa elaborada e cheia de reviravoltas já que ela mira um público infantil e infanto-juvenil, mas é uma boa adição visto que os diálogos das cenas — contadas em estilo visual novel — estão todas muito bem dublados em português e os personagens conseguem ser carismáticos na maioria das situações.
A campanha é ligeiramente extensa e as corridas são divididas em 5 categorias: Corrida Rápida: três voltas contra adversários e que vença o melhor; Mestre do Drift: prova individual em que existe um objetivo de pontos de derrapagem que precisa ser alcançado; Time Attack: corrida solo em que é preciso terminar o percurso em um tempo pré-estabelecido; Eliminação: prova com 12 carros onde a cada 15 segundos são eliminados o último ou dois últimos pilotos, até restar apenas um (o modo que mais gostei) e Ponto de Referência: onde é preciso passar por uma quantidade de pontos específicos dos cenários em um determinado tempo com traçado escolhido por você (o que menos gostei).
Além desses modos existem a “Batalha” contra Chefes (5 no total) em que é preciso destruir um número x de fichas desses inimigos espalhadas ao longo do trajeto da pista para derrotá-los.
O desafio fica por conta da posição dessas fichas estarem muitas vezes fora do traçado comum de uma corrida normal, às vezes em um posição elevada (o que vai exigir sua habilidade de pulo ou pulo duplo) e por tudo isso ter que ser realizado dentro de um tempo determinado entre a destruição de ficha e outra — isso exige um planejamento não só do trajeto, mas também do momento certo para usar a energia do boost para não ser eliminado pelo Chefão.
E se você é um tipo mais competitivo de jogador ou acha chato dirigir contra inteligências artificiais, a porção online de Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged é bem completa.
O multiplayer conta com os mesmos modos disponíveis na campanha (exceto a Batalha contra Chefes) e dois outros: Derby de Demolição e Pegue Engrenagens, mas infelizmente para este review não consegui encontrar muitas partidas contra outros jogadores em lobbys públicos, já que joguei antecipadamente, e acabei não conseguindo testar esses dois modos específicos.
Já para jogadores com espírito voltado para a construção de pistas, o Track Builder — um sucesso do primeiro game — faz seu retorno triunfal aqui nesta sequência. É um modo bem completo e apesar de parecer complexo em um primeiro momento, com um pouco de dedicação você poderá montar pistas ótimas. Mas, caso construção não seja o seu forte (como não é o meu) é possível aproveitar as criações de outros jogadores baixando pistas publicadas online.
Voltando um pouco no tempo, uma das minhas maiores críticas ao primeiro jogo era como a obtenção de veículos lendários e secretos estava muito atrelada a loot boxes, chamadas lá de Caixas Surpresa, enquanto a compra de veículos na loja estava quase sempre limitada a uma seleção de miniaturas comuns ou no máximo raras, com ciclos de revezamento dos veículos disponíveis a cada três horas.
Em Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged isso foi corrigido para uma forma muito mais justa, a loja do game continua utilizando as moedas obtidas na campanha e nas partidas multiplayer, mas a seleção de raridade é mais ampla, com um número fixo para cada uma. E caso o jogador prefira não esperar a renovação das miniaturas disponíveis (que agora acontece a cada 45 minutos) é possível pagar uma taxa fixa para novas estarem à venda imediatamente.
Isso é uma mudança extremamente significativa porque grande parte da diversão tanto no primeiro game como neste é o estímulo ao colecionismo dos carrinhos.
E, na verdade, eu nem deveria estar usando tanto a palavra “carrinhos” nesse review já que a desenvolvedora introduziu veículos como ATV’s e motocicletas aqui em Turbocharged. E o apelo não é apenas visual, já que eles agregam bastante na jogabilidade em cenários específicos, visto que existem pistas com superfícies off-road, como grama entre outras, em vários deles.
Voltando a falar sobre coleção, eu queria ter todos os modelos e, se o primeiro jogo parecia querer me limitar ao máximo nesse ponto com suas loot boxes, aqui a Milestone parece me incentivar a jogar uma quantidade de horas razoável para cumprir esse objetivo pessoal, apesar de já ter conquistado o troféu de platina com 25 horas de jogatina.
E considerando que existem mais de 160 veículos disponíveis para debloqueio no lançamento (contra 66 do primeiro game) essa decisão do remodelamento da loja foi muito acertada. Consegui desbloquear 136 deles, incluindo o protótipo Volkswagen Beach Bomb de 1969, e isso me deixou muito satisfeito.
Mas por que citei essa miniatura especifica? Aqui vai uma curiosidade interessante sobre a história da marca.
Em 1969, no auge do movimento Flower Power, foi criada uma miniatura de uma Kombi com pranchas de surfe saindo pela janela traseira chamada Volkswagen Beach Bomb, mas, por conta da posição dessas pranchas, o peso não ficou bem distribuído e quando usada nas pistas de corridas contra outras miniaturas ela sempre tombava ou saia do traçado.
Quando os projetistas perceberam esses problemas a produção foi cancelada e remodelada (com as pranchas saindo pelas janelas laterais). Entretanto, 144 unidades já haviam sido construídas e como a oferta e demanda é implacável elas se tornaram instantaneamente objeto de desejo de colecionadores. Atualmente, apenas 50 delas existem no mundo inteiro e o preço estimado de uma unidade original está na casa dos 750 mil reais.
Essa miniatura estar em Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged é uma demonstração do respeito pela história da marca, conhecimento e paixão que a Milestone, em conjunto com a Mattel, colocaram nesse projeto e um ótimo easter egg para quem é fã de longa data de diecast cars.
E falando em conhecimento do assunto, o nível de “realismo” das miniatura é impressionante, principalmente naquelas que utilizavam diferentes materiais em sua construção. Uma miniatura com corpo de metal, mas com partes de acrílico ou plástico na vida real é exatamente igual no game (eu sei porque meu filho tem várias), inclusive com as linhas de encaixe aparentes e marcas de uso como impressões digitais e arranhões.
Mas, se você não liga para nada disso que eu escrevi até agora (risos) e só quer saber se o jogo é bom e correr pelas pistas mirabolantes, multicoloridas e que desafiam a gravidade em Turbocharged, pode pisar fundo no acelerador: você não vai se decepcionar.
A análise de Hot Wheels Unleashed 2: Turbocharged foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game. Também disponível para Nintendo Switch, PC, PlayStation 4, Xbox One e Xbox Series.