Análise It Takes Two (PlayStation 5)
It Takes Two segue o caminho já tradicional trilhado por Josef Fares e entrega uma incrível experiência de jogo cooperativo.
It Takes Two (algo como “Precisa de Dois”, em uma tradução livre), começa nos apresentando os personagens principais da narrativa, o casal May e Cody. O casal está em meio a uma crise conjugal que parece levá-los a um inevitável divórcio, para o desespero da pequena filha Rose que, ao saber dos planos dos pais, faz um pedido emocionado enquanto segura uma dupla de brinquedos em suas mãos: que seus pais fiquem juntos novamente. Em um passe de mágica, May e Cody são transformados em brinquedos e, se quiserem voltar ao normal, precisam fazer algo que não fazem há muito tempo: cooperar.
Com essa premissa, a desenvolvedora Hazelight entrega uma das experiências mais divertidas do ano em um jogo que mistura várias abordagens dos gêneros de plataforma e ação em terceira pessoa.
Colaboração e diálogo são a base de qualquer relacionamento
Como nos demais jogos criados pelo diretor Josef Fares, todo o gameplay de It Takes Two é voltado para a cooperação, sendo obrigatório que duas pessoas joguem em multiplayer local ou online. Inclusive a necessidade de um outro jogador é um dos pontos fortes de It Takes Two, pois a EA oferece um “Passe de Amigo” para que você possa convidar qualquer pessoa para jogar junto, exigindo apenas uma cópia do jogo.
Como em outros jogos, ao controlarmos May e Cody podemos saltar (com pulos simples e duplos), correr agachar, agarrar nas bordas dos objetos e dar um impulso para frente (boost). Essas movimentações serão essenciais para a maior parte do jogo, baseada em desafios de plataforma, mas a cada nova fase, outras mecânicas são acrescentadas com o uso de ferramentas e armas que devem ser utilizadas conjuntamente pelos personagens.
Essa interação obrigatória entre os personagens causa ótimos momentos no jogo e funciona perfeitamente como metáfora nada subliminar a respeito do que é necessário para restaurar o relacionamento entre May e Cody. Em termos de gameplay, a Hezelight parece se superar a cada novo quebra-cabeças que precisa ser solucionado pelos personagens. É impressionante como são construídas as situações que exigem a interação dos dois jogadores para a solução de puzzles, sempre com a utilização de novas mecânicas baseadas nas mesmas ferramentas à nossa disposição.
Jogabilidade narrativa por excelência
Além das mecânicas baseadas em ferramentas e armas, It Takes Two sempre acrescenta novos trechos de plataforma, em 3D ou mesmo em 2D com a alteração das perspectiva da câmera do jogo, ampliando a maneira com que interagimos com objetos no cenário ou mesmo com o próprio cenário, criando uma expectativa sobre qual a próxima mecânica a ser utilizada e surpreendendo por incluir trechos com mecânicas independentes para cada personagem. Parece que cabe de tudo em It Takes Two e sempre que uma nova mecânica surge, nunca é de maneira gratuita e vem integrada com a narrativa apresentada.
Não há como não lembrar de jogos como Uncharted 4 e seus momentos grandiosos, que também se fazem presentes em It Takes Two; ou ainda Mario Odyssey em trechos com plataforma em duas dimensões. E porque não colocar um pouco de jogos de luta?
It Takes Two parece fazer de tudo um pouco e faz tudo muito bem!
Aliado ao gameplay excepcional, temos um jogo narrativo, como já é o padrão da indústria nos últimos anos. No entanto, ao contrário de jogos em que a mistura entre cenas e jogabilidde fica desequilibrada, resultando muito mais em um filme jogável do que o um videogame narrativo, It Takes Two equilibra perfeitamente esses momentos, tudo com excelente bom-humor e uma mensagem edificante. Eu colocaria o jogo próximo a Uncharted 4, em que a narrativa traz a motivação para tudo aquilo que fazemos no gameplay.
Em termos de apresentação, It Takes Two é claramente um jogo de médio orçamento (publicado por um segmento da Eletronic Arts, chamado EA Originals). Ainda assim, o jogo traz uma excelente dublagem e aspectos sonoros em geral muito bons, como trilha orquestrada que dita o tom de aventura necessário.
Já a parte gráfica se destaca muito mais na direção de arte do que na fidelidade foto-realista dos gráficos que são bonitos dentro da proposta cartunesca apresentada. Ainda assim, os momentos belíssimos no jogo que mostram que, nas mãos de uma equipe competente, dá pra fazer muito mesmo sem ter o orçamento de um jogo AAA.
Eu faria uma pequena ressalva em relação à ausência de uma dublagem em português e a necessidade de uma melhor assistência de câmera e auxílios de jogabilidade/acessibilidade em geral para que o jogo possa acolher uma maior gama de pessoas, sobretudo aquelas desacostumadas com jogos em 3D.
Superação através da cooperação
It Takes Two traz uma experiência divertidíssima e inesperada. Ao aliar diversas mecânicas que se reformulam à medida em que avançamos, o jogo consegue se renovar a todo momento, nunca deixando nós jogadores entediados. A necessidade de se jogar obrigatoriamente em dupla (seja online ou localmente), antes de ser um obstáculo, é uma ótima metáfora para a premissa de reconciliação e entendimento que vemos no jogo, afinal não dá para avançar se os jogadores não estiverem em sintonia e falando a mesma língua.
Eu inclusive pude colocar meu casamento à prova com os quebra-cabeças de It Takes Two e, também aqui em casa, tivemos que usar os ensinamentos do Dr.Hakim para superar cada novo desafio proposto, dentro do jogo e fora dele. A mistura perfeitamente equilibrada do gameplay com uma narrativa de transborda os limites do videogame como mídia, fazem de It Takes Two algo especial, maior do que a soma de suas partes.
https://www.youtube.com/watch?v=BeZMv2dHqQU
It Takes Two foi desenvolvido pela Hazelight Studios e publicado pela Eletronic Arts, dentro do selo EA Orignals para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X/S e PC.
A análise de It Takes Two foi realizada com base em uma cópia digital para PlayStation 5, gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.