Análise Kingdom Come Deliverance 2 (PS5)
Kingdom Come Deliverance 2 melhora todos os aspectos do primeiro jogo e já pode se considerar um sério candidato a jogo do ano em 2025!
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Kingdom Come Deliverance 2 é a sequência direta do primeiro jogo, lançado em 2018 onde controlamos Henry de Skalitz, filho do ferreiro que acaba envolvido em uma grande aventura quando a sua cidade é destruída em consequência do tumulto político que se seguiu após a morte do Rei Carlos IV da Boêmia, em 1403. A proposta do primeiro jogo era apresentar um RPG brutal, com uma simulação intensa da vida medieval, trazendo vários sistemas de imersão naquele universo. Embora a narrativa tenha sido um dos pontos altos do jogo e tudo funcionasse a contento, a falta de otimização do jogo levou muitos jogadores à frustração, assim como a elevada dificuldade do combate com espadas e outras armas brancas.
Iniciando imediatamente após os eventos do primeiro jogo, KCD2 eleva todos os aspectos da aventura original a outro patamar, entregando uma experiência mais polida e igualmente imersiva.
De ferreiro a cavaleiro
Um dos aspectos mais únicos de Kingdom Come Deliverance é a proposta de uma simulação do período histórico no mundo real, sem fantasia. Assim, Henry de Skalitz começa o primeiro jogo como uma pessoa normal e não possui atributos ou vantagens sobre os outros, inclusive sofre penalidades pelo uso de armas sem perícia, por exemplo. É no decorrer da aventura em que o personagem vai desenvolvendo as habilidades necessárias para cumprir as missões, assim como nós jogadores vamos aprendendo a jogar. Em KCD2 não é diferente, pois apesar de Henry ser um personagem com mais experiência nessa sequência, os eventos que seguem na abertura do jogo justificam o seu retorno à estaca zero..
É com essa dinâmica de interação entre o personagem e o mundo criado pela Warhorse Studios que KCD2 trilha o caminho para ser um dos melhores jogos do ano e um RPG de ação a ser lembrado como um dos grandes, tal como The Witcher 3 Wild Hunt, The Elder Scrolls V Skyrim ou mesmo Baldur’s Gate 3.
O mundo aberto de Kingdom Come Deliverance 2 apresenta duas regiões distintas, a área rural da Boemia medieval e o ambiente urbano da cidade de Kuttenberg, locais onde a aventura se desenvolve e onde Henry encontra oportunidades para melhorar sua condição e progredir na campanha. O visual dos ambientes é absolutamente incrível e rivaliza com os melhores mundos abertos já criados, como de Red Dead Redemption 2 ou Dragon’s Dogma 2. E não apenas o mundo é vasto e belo, como também é cheio de surpresas a cada curva. Bandidos montam emboscadas para personagens não-jogáveis, acampamentos abandonados podem ser utilizados, pequenos vilarejos com utilidades estão à disposição e, somam-se as características do ambiente com as pessoas que ali habitam.
Todos os NPCs possuem rotina própria e interagem com Henry de acordo com a reputação que ele possui. Cada grupo, cada cidade ou até mesmo personagem possui uma opinião sobre Henry e a cada nova interação podemos aumentar ou diminuir a sua reputação. Aqui é interessante ressaltar que os personagens comportam-se de maneira formal e Henry por muitas vezes acaba parecendo meio bobo em suas falas e respostas, o que adiciona um certo charme ao personagem. No entanto, a rigidez de Henry resulta em algumas interações que correspondem muito bem à nossa intenção, sendo ríspidas demais.
Falando em intenção, o KCD2 oferece 03 grandes estilos de jogo: Henry pode ser um nobre, conseguindo seus objetivos por meio de sua influência e aparência; uma figura carismática que usa sua lábia para convencer a todos ou incorporar a figura de um cavaleiro, intimidando aqueles que estiverem em seu caminho. A cada diálogo, vamos conhecendo melhor o personagem principal e os demais, mas nenhum resultado nas checagens de habilidade é garantido, principalmente no início do jogo, adicionando um elemento de surpresa, que pode ser bem-vindo ou não. As vezes tudo que a gente quer é resolver uma situação na conversa, mas uma resposta enviesada de Henry coloca tudo a perder e a situação escala para uma briga generalizada.
Mas se a conversa não funcionar, resta a alternativa da violência. O combate foi um dos pontos mais inovadores de KCD pois trazia um realismo de técnicas e movimentos buscando autenticidade e coerência com a ambientação medieval. Em KCD2 a dinâmica de combate permanece a mesma, mas o polimento do jogo faz com que tudo seja mais fluído, de modo a explicitar que Henry não é mais só um aprendiz de ferreiro. Não espere um combate ágil como em Dark Souls ou algo genérico como Skyrim ou For Honor. Os movimentos em KCD2 são precisos, mas com peso e, de acordo com a arma empunhada, as técnicas empregadas devem ser distintas (uma espada tem pouca utilidade contra uma cota de malha, por exemplo).
A atenção ao detalhe aqui é louvável, pois a força, agilidade e até mesmo o tipo de armadura utilizada pelo jogador ou seu adversário fazem muita diferença no resultado final e, sim, enfrentar mais de um inimigo ao mesmo tempo é quase uma sentença de morte. Ainda assim, é possível encontrar meios para sobreviver e derrotar os inimigos, lutando contra um de cada vez ou colocando-se de maneira que um arqueiro não possa atirar sem correr o risco de acertar o companheiro. Em todo caso, se existe uma lição a ser aprendida é: cuidado com o excesso de confiança.
Apesar da dificuldade, iniciar combates compensa, pois é a melhor chance de obtermos melhores equipamentos, armas, itens e alguns groschen para gastar na taverna. Mas até mesmo após algumas horas podemos encontrar adversários mais habilidosos e então, talvez fugir seja a melhor opção.
Outras mecânicas que eram complicadas no jogo original também foram melhoradas, como o arrombamento de fechaduras, por exemplo.
Bruto, rústico e sistemático
Para os aficionados por simulação, Kingdom Come Deliverance 2 é recheado de sistemas de interação que auxiliam na imersão do jogador. Fome, cansaço, sujeita, mau-cheiro, todas essas estatísticas influenciam na jogabilidade e em como o ciclo de gameplay vai se desenvolver. Ao iniciar um dia normal, Henry pode se deparar com bandidos no caminho da taverna e, após derrotar o grupo, seguir a vida coberto de sangue e com fome, precisando de banho um e de comer alguma coisa. Seria simples se os banhos não fossem caros e a comida não estragasse no inventário, mas felizmente Henry pode levar consigo uma garrafa de sabão para lavar suas roupas e desidratar alimentos para que durem mais. Mas nem todo lugar possui uma estante de secagem…
Esse é apenas um exemplo de mecânicas e sistemas que o jogo apresenta e força o jogador a se adaptar a fim de entregar a experiência de simulação medieval proposta. A ideia é desacelerar o mundo para que possamos desfrutar da atmosfera do jogo e se você é daqueles que gosta jogar sem pressa, KCD2 pode ser a sua companhia por meses a fio.
Existem atividades variadas que podem ser utilizadas para melhorar atributos do personagem, como trabalhar com o ferreiro, colher plantas, caçar, jogar dados, participar de competições de arco e flecha ou de luta, corrida de cavalos, alquimia… tudo acontece independentemente da campanha principal e pode ser realizado indefinidamente enquanto os jogadores assim desejarem. Isso tudo em um mundo que convida à exploração! Eu não duvido que daqui a alguns anos existam jogadores que sequer saíram da primeira área (como acontece em Baldur’s Gate 3), pois não existem fronteiras e a sua habilidade é o limite.
Afiado e polido
Kingdom Come Deliverance 2 chega em um estado técnico muito superior ao seu antecessor. Na realidade, KCD original é uma maravilhosa gambiarra tecnológica que, apesar de tudo, funciona com muita dificuldade no PlayStation 4. Por seu turno, KCD2 já começa em outro patamar técnico com carregamentos bem mais rápidos e performance mais apurada.
Os modelos dos personagens são muito mais bonitos e, de alguma forma, parecem mais ótimas representações de videogame do que uma tentativa fracassada de fotorrealismo. A direção de arte é um show à parte, pois além da construção de ambientes ricos e vivos dentro do jogo, também entrega uma elegante interface do usuário, além de fácil de usar e totalmente em português (um dos grandes obstáculos do jogo anterior era a falta de localização nos consoles).
No fim das contas, não há como negar que KCD2 recebeu o mesmo tratamento AAA que The Witcher 3 e não apenas está à altura dos grandes RPGs lançados pelas maiores desenvolvedoras e editoras do mercado, como é facilmente melhor do que alguns deles (estou falando de você Dragon Age The Veilguard).
Conclusão
Kingdom Come Deliverance 2 é um jogo obrigatório para os amantes de RPG e, portanto, deve ser experimentado sem pressa de terminar. É um jogo que nos remete à memórias de descoberta de um mundo vasto e convidativo, como Skyrim e Red Dead Redemption 2. Um RPG robusto e com muita personalidade que não tem medo de desagradar com um ritmo de gameplay mais lento mas contando uma história poderosa de vingança contra os algozes de Skalitz.
É difícil precisar o sentimento que surge ao explorar o vasto campo da Boemia ou os becos de Kuttenberg, mas KCD2 consegue trazer uma satisfação muito própria com cada um de seus elementos, seja organizando o inventário ou coletando ervas ou lutando para sobreviver.
Assim como Baldur’s Gate 3, Kingdom Come Deliverance 2 trilha o caminho oposto do que atualmente se espera dos jogos de ação com alto orçamento, sem componente online, sem microtransações ou lootboxes. Um RPG à moda antiga, que prova que bons conceitos quando aplicados de forma competente não apenas funcionam dentro de um jogo, mas também vende mundo bem! Que sirva de lição para os jogos vindouros.
Kingdom Come Deliverance II foi desenvolvido pelo estúdio Warhorse Studios lançado em Fevereiro/2025 para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S pela Deep Silver.
A análise foi feita com base em uma cópia digital de PlayStation 5 gentilmente fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.
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