Análise LEGO Star Wars: The Skywalker Saga (PS5)

LEGO Star Wars: The Skywalker Saga é uma carta de amor aos fãs de Star Wars, selada com bom humor, jogabilidade refinada e horas de conteúdo.

Review LEGO Star Wars: A Saga Skywalker

Em 1932 quando um carpinteiro dinamarquês chamado Ole Kirk Christiansen abandonou a marcenaria tradicional para se dedicar à fabricação de brinquedos de madeira ele não tinha muito, na verdade ele tinha (e teria) uma coleção nada invejável de desastres e tragédias pessoais — mas isso é uma história para outra hora. Contudo, o que Ole tinha era um princípio, e essa convicção norteou seu trabalho e é, ainda hoje, um dos slogans da companhia que ele fundou: “Só o melhor é bom o suficiente”.

Dois anos depois, e não vendendo como esperado, ele precisava de um nome para a sua marca de brinquedos, um nome que impactasse e chamasse a atenção para a qualidade do seu produto. Ole contraiu a expressão dinamarquesa “leg godt“, que em tradução livre significaria algo como “brique bem“, para LEGO, um nome simples, fácil, reconhecível e que se tornaria, anos depois, sinônimo de blocos de montar, mesmo que a empresa não tenha sido a inventora do conceito do brinquedo.

A primeira versão desses blocos começou a ser comercializada em 1949, baseada nos modelos produzidos pela companhia inglesa Kiddicraft (cuja patente foi adquirida pela LEGO anos depois), mas foi apenas em 1958, já com um design aprimorado — e que persiste até hoje —, que a empresa foi catapultada ao sucesso. LEGO tornou-se então um ícone, e é, ao lado de Barbie e Hot Wheels, um dos brinquedos mais reconhecidos e vendidos no mundo inteiro.

Blocos de montar LEGO

Entretanto, com o início da digitalização do mundo nos anos 90, e, principalmente, a ascensão dos videogames, a popularidade e as vendas dos blocos multicoloridos começou a cair. As crianças não queriam Kits LEGO, elas queriam PlayStation’s, tamagotchi’s, ou qualquer outro eletrônico da moda. E apesar da marca LEGO ser forte no imaginário coletivo, a empresa precisaria da ajuda de outra Força para evitar a falência.

Uma nova esperança

Aproveitando o retorno à popularidade de Star Wars, com a antecipação do lançamento de Episódio I: A Ameaça Fantasma, a empresa lançou, em 1999, o seu primeiro produto licenciado de um filme: uma X-Wing feita de LEGO, igual a pilotada por Luke em Uma Nova Esperança. O sucesso estrondoso do kit foi o início de uma parceria de sucesso que além de tirar a corda do pescoço da empresa, transcendeu os blocos de montar e chegou aos videogames em 2005, com os excelentes LEGO Star Wars: The Video Game e, no ano seguinte, com LEGO Star Wars II: The Original Trilogy, desenvolvidos pela Traveller’s Tales.

O sucesso dos títulos foi tão grande que, além de alavancar a venda de blocos físicos, abriu o caminho, e interesse, para outros licenciamentos: Indiana Jones, Harry Potter, Senhor dos Anéis, Piratas do Caribe, Marvel, DC, outros episódios de Star Wars, Rock Band, além da criação de IP’s próprias, são apenas alguns dos exemplos da invasão digital da LEGO nos anos 2000. A expertise acumulada trabalhando com franquias tão diversas fez que cada novo jogo desenvolvido pela Traveller’s Tales, uma empresa do grupo Warner Bros. Interactive Entertainment, fosse um passo a mais na construção, literalmente, bloco a bloco do veio a se tornar o formidável LEGO Star Wars: The Skywalker Saga.

LEGO Star Wars: A Saga Skywalker Millennium Falcon

Um absurdo de conteúdo (no bom sentido)

LEGO Star Wars: The Skywalker Saga é, sem sombra de dúvidas, o jogo da franquia LEGO mais grandioso já lançado. Ele é o mais refinado, mecânica e visualmente, e também o que tem mais conteúdo.

Aqui você terá acesso a 9 episódios, representando os nove filmes da franquia principal de Star Wars, centrados na família Skywalker e a sua relação com a Força. Cada episódio é dividido em 5 missões principais lineares, com possibilidade de exploração livre entre objetivos, realização de missões secundárias, resolução de enigmas, puzzles, coleta de itens e, entre algumas desses capítulos, interlúdios com batalhas de naves. Além disso existe um modo de jogo livre em que é possível explorar qualquer parte da galáxia que já tenha sido descoberta.

O episódio inicial de cada trilogia é desbloqueado desde o início, então é possível começar pela saga que você goste mais ou tenha uma nostalgia maior. É natural, pensando na história como um todo, que se jogue na sequência numérica (episódios I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX), mas eu, por exemplo, escolhi jogar na ordem de lançamentos dos filmes, começando pelo episódio IV, e não me arrependo de nada.

Seleção de episódios

A duração média de cada episódio depende muito do seu estilo de jogo e o quanto você pretende explorar do conteúdo secundário, mas focando na história principal o jogador deve levar de 2 a 3 horas para finalizar cada um, o que daria uma média final de 20 horas de campanha.

Para este review joguei 40 horas do game, alternando entre conteúdo principal e secundário, e mesmo assim fiz pouco mais de 50% do que o jogo oferece. Então prepare-se, se sua intenção for fazer tudo que os desenvolvedores disponibilizaram, esse tempo pode chegar fácil a 100 horas ou mais. E, embora eu mesmo já tenha criticado outros jogos que, artificialmente, se alongam demais, no caso de Skywalker Saga, por ser fã do material original, cada segundo que passei nele valeu a pena.

LEGO Star Wars: The Skywalker Saga Conde Dookan

Os jogos da série LEGO são conhecidos por serem do tipo Collect-A-Thon, um estilo em que o objetivo é coletar o máximo de itens possíveis para desbloquear novos caminhos, finais alternativos, personagens, power-ups, etc. Um exemplo desse estilo, e talvez o primeiro Collect-A-Thon, é o jogo Super Mario 64, em que o jogador usa estrelas coletadas para desbloquear portas e áreas inteiras no castelo Peach.

Em Skywalker Saga nenhum caminho é travado completamente até que você consiga um número X de peças, mas você precisará delas para desbloquear novos personagens (que podem acessar baús de recompensas, terminais e locais específicos), naves, ou comprar melhorias e vantagens.

Nada disso é imposto ao jogador, mas é implementado de uma forma tão natural (e viciante) que é irresistível não desviar um pouco do caminho para pegar mais peças ou blocos kyber que estão à vista. Entretanto, essa não imposição tem seu lado bom, mas também tem o seu lado ruim.

AT-AT Skywalker Saga

Combate e o lado RPG de Skywalker Saga

Embora a franquia de filmes e animações tenha atravessado gerações, LEGO Star Wars: The Skywalker Saga é um jogo fundamentalmente voltado para o público infantil, e dessa forma a sua dificuldade é inexistente. Por conta disso, todo o sistema de melhorias desenhado para ele é, na melhor das possibilidades, opcional. Isso não tira o mérito da sua existência, mas a diferença que ele faz para o combate ou exploração é mínimo.

Os personagens são agrupados em classes, como Jedis, Heróis, Vilões, Droides Astromecânicos, Droides de Protocolos, Caçadores de Recompensas, dentre outros. Ao todo são 10 classes e cada uma tem uma árvore de melhorias específica, além de um conjunto de habilidades gerais aplicadas a todas as classes, como velocidade de movimentação, aumento de peças recebidas, velocidade no uso de habilidades especiais, aumento de vida, aumento de dano e muito mais.

É um sistema bem desenhado e completo, mas que pela dificuldade baixa do título não incentiva o jogador a utilizá-lo para progredir.

Chewbacca

Por outro lado, as vantagens adquiridas no menu de Extras são bem mais interessantes e engraçadas, como deixar os personagens com uma cabeça gigantesca, substituir os sabres de luz por baguetes, aplicar filtros de TV antiga, trocar o som dos blasters por barulhinhos feitos com a boca (o famoso pew pew pew) ou ainda substituir a dublagem pelos murmúrios clássicos dos primeiros jogos LEGO. São detalhes que não alteram ou facilitam a jogabilidade, como as melhorias de habilidades fazem, mas que casam bem com o humor do título.

É no menu de Extras também que o jogador pode adquirir multiplicadores que aumentam o número de peças coletadas. E se você pretende fazer 100% do conteúdo, comprar todos os personagens ou mesmo platinar/miletar o game, recomendo fortemente economizar suas peças até comprar esses multiplicadores.

É absurdo a quantidade de peças que o último nível desse upgrade proporciona, já que com ele ativo cada peça coletada é multiplicada por 3.840! Pode parecer impossível juntar um milhão de peças no início para comprar o primeiro nível desses multiplicadores, mas com eles ativos a tarefa de acumular para o próximo nível vai ficando cada vez mais fácil. Na trilogia final era comum conseguir terminar cada missão com mais de 10 milhões de peças, valores suficientes para desbloquear todos personagens, naves e rumores.

Skywalker Saga Leia Organa

Em matéria de combate, comparado aos outros título LEGO, Skywalker Saga é incrivelmente mais dinâmico.

Existem 3 tipos de variação desse sistema: combate em naves, tiro em terceira pessoa e lutas corpo a corpo. A parte TPS do game e os efeitos sonoros dos blasters são incríveis, além disso, existem mecânicas de cobertura, similares ao visto em Gears of War ou Uncharted, implementados de uma forma mais simplificada, mas adiciona um elemento estratégico a mais bem interessante. Já o combate melee utiliza uma sistema de combos e esquiva que faz toda a diferença, principalmente nas lutas contra chefes e que não existia, pelo menos não da forma que é apresentada aqui, nos outros jogos da Traveller’s Tales.

E se o combate mais direto com blasters, sabres de luz e uso da força é muito bem implementado, as batalhas com naves são as minhas lutas preferidas, mesmo com seus defeitos. Fighter Squadron e Starfighter Assault eram os modos que mais gostava em Battlefront e Battlefront 2, e, diga-se de passagem, adorei Star Wars: Squadrons. Então quando soube que LEGO Star Wars: The Skywalker Saga teria trechos inteiros de batalhas espaciais mal pude esperar para experimentar, mesmo sabendo que a expectativa talvez poderia me frustar.

Combate Espacial em Skywalker Saga

Felizmente, aqui ele é uma adição valiosa ao pacote, e mesmo que não tenha todos os detalhes que tornavam os jogos citados muito bons no meu conceito, ele não faz feio. A única coisa que senti muita falta foi um botão para inverter o eixo da nave automaticamente ao invés de precisar usar o analógico para isso, o que nem sempre foi uma tarefa fácil ou agradável.

Vale a pena?

LEGO Star Wars: The Skywalker Saga é absolutamente incrível e um presente para qualquer fã de Star Wars, contudo, muito além disso, ele é um ótimo jogo por si só.

O respeito com os filmes e a forma como a história é contada até ajudam a minimizar o gosto amargo que algumas decisões do universo cinematográfico deixaram. Os melhores momentos são condensados e dinâmicos, e os piores momentos… bem, eles ainda existem, mas o bom humor que LEGO trás para os seus jogos faz com que os absurdos pareçam menos ridículos ao, justamente, ridicularizar eles de forma carinhosa e pueril.

Guardas Pretorianos

Apesar do foco ser nas trilogias principais, existem easter eggs, pacotes de personagens e naves dos outros filmes, séries e animações da franquia, desde os mais queridos como Clone Wars, Rogue One e O Mandaloriano, até o menos favorito dos fãs: Han Solo: Uma História Star Wars. Entretanto, no caso dos pacotes de personagens de outros filmes, a disponibilidade depende da versão do jogo que você adquirir: a versão Deluxe inclui todos os DLCs já lançados e os programados, enquanto quem optar pela versão Standard, se desejar, precisará comprá-los separadamente, o que não é algo que particularmente eu gosto.

Mesmo sendo um jogo voltado para uma faixa etária mais baixa, qualquer pessoa pode se divertir com o game, independente da idade ou da intimidade com videogames. Seja jogando sozinho ou em co-op local, as variações de jogabilidade transformam Skywalker Saga em uma grata surpresa, e a atenção aos detalhes gráficos, sonoros e a excelente dublagem (seja em inglês ou em português) enchem os olhos e, com certeza, ele honra o slogan que foi a base fundadora da companhia LEGO: “Só o melhor é bom o suficiente”.

Se esse não é o jogo que você estava procurando, deveria ser.

"These Are Not the Droids You Are Looking For" Skywalker Saga

A análise de LEGO Star Wars: The Skywalker Saga foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game. Também disponível para Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox Series X, Xbox One e Microsoft Windows.

Papai Platina
(Pouco) conhecido como Willian. Marido, pai de três filhos maravilhosos, fã de Stephen King, filmes toscos e trophy hunter nas horas vagas. No Twitter como @papaiplatina e willianmarques na PSN.