Análise Like a Dragon: Infinite Wealth (PS5)
Infinite Wealth é mais um acerto em sequência da SEGA e garantem muita diversão e boas gargalhadas para os fãs de JRPG
Poucas franquias conseguem trocar totalmente de estilo e de protagonista e não perder tanto em sucesso quanto em sua essência. Yakuza: Like a Dragon cumpriu essa missão com louvor e abriu as portas pra existência de Like a Dragon: Infinite Wealth que é mais do que uma continuação e sim a consagração dessa novo fórmula.
A Ryu Ga Gotoku, divisão da SEGA responsável pela série, parecia que já tinha esgotado todas as possibilidades com inúmeros títulos nesse universo de máfia japonesa, lançando até um prelúdio em Yakuza 0 e voltando ainda mais no tempo até a época dos samurais em Ishin!.
O primeiro Like a Dragon (no ocidente) parecia encerrar essa fase de jogos de ação e partir para os nada revolucionários RPGs de turno. Em 2020 essa escolha pareceu mais estranha, mas após o sucesso do título, o fenômeno Baldur’s Gate 3 e diversos outros jogos do estilo, a decisão se mostrou bem acertada e mantida em Infinite Wealth. Embora, para complicar um pouco a cabeça dos fãs, em 2023 foi lançado The Man Who Erased His Name, um spin off novamente com o antigo formato de ação em terceira pessoa.
Um jogo de dois dragões
Kasuga é o protagonista perfeito. Ele tem um carisma pra colocá-lo entre as maiores figuras da história dos videogames, tem um coração bom sem ser piegas, tem força e técnica mas sem ser invencível e uma ingenuidade (as vezes burrice) que o deixa humano. Mas é muito difícil abandonar um personagem tão forte quanto Kiryu, o lendário Dragão de Dojima.
Kiryu foi o protagonista da maior parte dos jogos da franquia até abandonar o postou em Yakuza: Like a Dragon. Mas retornou rapidamente para o spin off Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name (2023) onde completamos totalmente o arco do personagem. Mas sim, ele está de volta e quase podemos dizer que agora temos dois protagonistas. Ichiban Kasuga é o centro da história, mas o Dragão de Dojima está sempre presente abalizando suas escolhas.
O Hawaii é aqui
Pela primeira vez em muito tempo. A série Yakuza/Like a Dragon tem um cenário completamente novo. Uma das grandes críticas aos jogos era a extensa repetição de cenários, já que os jogos se passam nas mesmas cidades. Então pouca coisa mudava de um título para outro, era como se Kamurochô tivesse apenas pequenas atualizações de um título para outro. Por outro lado, é fácil entender que essa estabilidade ajudou muito um estúdio do porte da Ryu Ga Gotoku produzir tantos bons jogos em poucos anos.
Mas agora tudo é diferente. Aloha está presente no jogo não apenas como um pequeno mapa em anexo, a cidade é sim a principal locação. E ela traz também todo esse clima de praia e verão que podemos imaginar quando falamos em Hawaii. O cenário é relativamente extenso e bem rico. Caminhar pelas ruas, parques e praias é bem divertido pois, como sempre, ele é lotado de eventos, itens e oportunidades de interagir com seus companheiros.
Novos e antigos companheiros
Boa parte do sucesso do Kasuga como protagonista é a forma como ele interage com as pessoas. E os laços criados entre ele e Adachi, Namba e Saeko são pontoes cruciais nessa construção. Mas agora é vida nova, jogo novo, cidade nova e amigos novos, certo? Quase isso. Aloha é uma cidade completamente nova para Ichiban e Kiryu e alguns moradores locais se mostram como excelente escolhas para companheiros, embora os antigos amigos sempre estão presentes, nem que seja em forma de lembranças e histórias.
Alias, essas lembranças e histórias, formam uma nova mecânica do jogo, uma espécie de bingo onde vamos preenchendo uma cartela a cada vez que aprendemos uma informação nova dos nossos companheiros. O prêmio é nossa aproximação com eles o que gera benefícios nas batalhas. Quando for enfrentar a máfia, tenha sempre seus amigos por perto!
Poucas inovações nas batalhas
Se você é familiarizado com batalhas em turnos não será difícil aprender como se joga Infinite Wealth. Nos duelos você tem opções como atacar, defender, utilizar habilidades ou itens além de tentar fugir. Os ataques e especialidades possuem características como pancada, corte, magia, além de marcas como água, fogo, eletricidade e etc… Os inimigos possuem fraquezas e resistências a esses elementos. É sempre bom manter uma party variada pra enfrentar qualquer desafio.
Durante as batalhas duas barras são essenciais a de vida e a de mana. Se uma barra de vida de um companheiro acabar ele será retirado do combate, caso a sua acabe você perderá a luta, mesmo que ainda tenha membros da sua equipe ainda vivos. Já a barra de mana (ou magia) é gasta com habilidades de ataque, cura ou de status. Ela é recarregada lentamente quando você ataca, então é sempre necessário ficar de olho e administrando pra usar tais habilidades com consciência. Alguns companheiros possuem uma terceira barra que é a de vínculo com nossos protagonistas e que serve pra realizar ataques especiais e muito poderosos.
Praticamente tudo isso já existia no jogo anterior, foi acrescentado um sistema de posicionamento bem simples onde ataques a curta distância e em inimigos de costas dão um dano maior. Além de combos que podem ser gerados de acordo com a posição de outros personagens durante o ataque. O sistema de profissões também se manteve, funcionam muito bem e é possível mudar bastante as características de um aliado treinando em uma nova categoria.
Como já é tradicional na franquia, o jogo conta com uma série de minigames, desde os mais simples como alguns complexos que quase contam como novos jogos. Chamam a atenção a paródia Sujimon, claramente uma brincadeira com Pokemon e o sistema de criação de resorts, que possuem diversas horas de game play.
Senta que lá vem a(s) histórias(s)
Como todo bom JRPG, o novo Like a Dragon é muito focado em histórias. Talvez até demais. O jogo conta com dezenas e dezenas de horas de cutscenes contando a trama principal e acontecimentos paralelos. Para muitos jogadores pode ser massante. Das minhas 5 primeiras horas de jogo, quase 4 eu apenas assisti. E mesmo achando tudo muito interessante, o cansaço pode bater. Depois o ritmo da ação aumenta, mas prepare-se pra muitas vezes parar e apenas apreciar o que o jogo quer te contar.
A história principal começa de forma pouco clara, mas deixa evidente que não só a missão é importante, mas o aprofundamento das relações entre os personagens é vital. Já as missões paralelas são, na maioria das vezes, muito divertidas mesmo quando são bizarras ou bobas. Os produtores do jogo sempre preparam momentos que beiram a insanidade e facilmente arrancam boas gargalhadas.
Um ponto negativo é a falta de dublagem em várias cenas, é de entender que apesar do tamanho da franquia, não são jogos de orçamento gigantesco como muitos AAAs que estamos acostumados. Mas muitas e muitas vezes temos que apenas ler o que está acontecendo em balõezinhos enquanto os personagens emitem sons monossilabicamente. Mas para a alegria dos brasileiros, a SEGA localizou o jogo tendo uma ótima tradução para o nosso português.
O game carrega muita bagagem dos anteriores, diversas vezes eventos e personagens de outros títulos são mencionados, embora é possível compreender ele como um todo sem jogar nenhum antes. Em todo o caso, é recomendável jogar pelo menos o título Yakuza: Like a Dragon.
É nova ou velha geração?
Em tempos que os lançamentos de jogos grandes já sendo raros na geração passada (PS4 e Xbox One) a SEGA decidiu abraçar o máximo de consoles possíveis e isso reflete em um jogo com algumas limitações técnicas e gráficas. Mas a minha opinião sobre isso? Quando o jogo é bom, esses “defeitos” importam muito menos. Infinite Wealth se garante nos quesitos história e, principalmente, diversão. Podia ser mais bonito e fluído, com cenários mais ricos e complexos, entretanto, esse não é o foco do título.
Vale a pena?
Muito! Like a Dragon: Infinite Wealth é ainda melhor que seu antecessor. Como dizem é um jogo mais videogame possível. Seus personagens são incríveis, a narrativa é muito boa e traz um grande entreterimento. A game play, embora nada moderna, funciona perfeitamente, além de possuir diversos mini games que não deixam nunca cair em monotomia. Apesar de não trazer gráficos de última geração, tem diversos modelos bonitos seja de personagens quanto cenários. Por outro lado, esses mesmos cenários poderiam ser mais detalhados e mais ricos tendo menos repetições de objetos e texturas. Os diálogos poderiam ser todos dublados, trazendo maior imersão e a movimentação poderia ser mais fluída. Mesmo assim os pontos fortes são muito superiores aos fracos. Se você gosta de um bom JRPG não perca esse jogo que está totalmente legendado em português do Brasil.
A versão testada de Like a Dragon: Infinite Wealth foi a de PS5 e nos foi fornecida pela SEGA. O jogo está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbone One e Xbox Series.