Análise Maneater (PS4)

Maneater é um RPG de ação incrivelmente divertido sobre um tubarão em busca de vingança a caminho de se tornar o predador mais temido dos sete lagos.

Não existe um ser humano, pelo menos não um que eu conheça, que não goste ou se emocione com histórias de superação.

Quem não fica com um nó na garganta ao assistir o personagem do Will Smith finalmente conseguir vencer as adversidades em A Procura da Felicidade depois de tudo que ele passou ao longo do filme?

Por outro lado, um dos meus tipos preferidos de narrativa é uma espécie de subdivisão dentro desse gênero de histórias edificantes: a superação através da vingança.

Ninguém torce para os russos no primeiro John Wick, nem os próprios russos.

Você quer que o Liam Neeson encontre quem raptou a filha dele e mate o desgraçado, como ele disse calmamente ao telefone que faria.

E em Maneater o jogador assume o papel de um tubarão em busca de vingança cujo objetivo principal é encontrar o caçador que matou a sua mãe e que te marcou para o resto da vida, literalmente.

Maneater filhote
A máquina da vingança

Maneater foi desenvolvido pela Tripwire Interactive e e publicado pela Deep Silver e lançado em 22 de maio de 2020 para PlayStation 4, Xbox One e PC, via Epic Games Store, uma versão para Nintendo Switch ainda está em desenvolvimento com previsão para lançamento ainda neste ano, mas sem data definida.

O game conta com uma excelente dublagem em Português do Brasil e já no primeiro minuto a equipe que fez o trabalho de localização nos brinda com um dos memes mais populares da internet brasileira e não tem como não gostar do jogo logo de cara.

História clássica, roupagem moderna

A história se passa dentro de um reality show chamado Maneaters vs. Sharkhunters, e nesse programa acompanhamos a história do caçador de tubarões Capitão Scaly Pete e a sua busca por um tubarão específico com quem ele tem um passado à la Moby Dick.

Enquanto não o encontra, Pete aproveita para matar todos os predadores de barbatana da região, e em uma dessas caçadas ele encontra a mãe do nosso protagonista que acaba sendo capturada e morta pelo barqueiro, que resolve soltar o filhote de Tubarão de Cabeça Chata de volta a água só para poder caçá-lo depois.

Maneater sangue na água
Vou te pegar daqui a pouco humano

Você agora está sozinho, desamparado e precisa enfrentar uma série de perigos dentre eles outros caçadores humanos e predadores, e precisa crescer e evoluir para ir atrás do seu maior inimigo enquanto faz um estrago pelo caminho.

Afinal que graça teria ser um tubarão e não poder aterrorizar alguns banhistas desavisados?

O Terror dos Sete Lagos

O mapa é dividido em 7 regiões relativamente grandes e com bastante objetivos secundários, colecionáveis e uma vida marinha diversificada, e embora teoricamente o jogador possa visitar qualquer um desses locais a qualquer momento existem várias passagens e túneis que só ficam acessíveis ao um determinado tamanho, o que adiciona um elemento de backtracking a Maneater.

Maneater level máximo
It’s evolution, baby! Do the evolution!

Ao consumir outros animais, encontrar itens, baús, pontos turístico e lutar contra predadores como jacarés, barracudas, outros tubarões, entre outros o seu personagem aumenta em nível, tamanho e em idade e acumula recursos como proteínas, gorduras, minerais e mutagênicos raros que podem ser utilizados para melhorar as suas Evoluções.

Já para conseguir acesso a essas Evoluções existem dois caminhos, é possível liberar algumas melhorias ao subir de nível, mas para desbloquear as mais poderosas é preciso alcançar um determinado grau de infâmia e derrotar um caçador especial.

Funciona exatamente da mesma forma que os níveis de procurado em GTA, ao criar caos e confusão matando humanos ou destruindo embarcações você se torna infame e caçadores tentarão te matar, se eles não conseguirem outros mais fortes serão enviados e assim sucessivamente até que sua barra de infâmia passe para o próximo nível, e quando isso acontece um caçador de elite é enviado para dar um fim ao seu reinado de terror.

Maneater Caçadores de elite
Não estão sobrando muitos caçadores de elite

É uma mecânica de risco e recompensa, esse inimigo é mais forte e tem um barco que aguenta mais danos, mas ao derrotá-lo o seu personagem ganha um atributo físico, que pode ser mais saúde, velocidade, mordidas mais fortes ou a capacidade de emitir descargar elétricas ao desviar para atordoar e causar dano às presas, dentre várias outras.

Se um tubarão já é perigoso imagina um que solta raios.

Além disso cada região conta com um Predador Ápice, que funciona como se fosse um mini-chefe da área. O combate entre o seu tubarão e os Ápices é bem similar ao contra o tipo de predador comum do qual ele deriva.

Por exemplo, a Barracuda Ápice nada mais é do que uma barracuda simples entretanto ainda mais rápida, agressiva e com uma barra de vida maior, só que ao derrotar esses inimigos o seu tubarão também ganha um benefício físico que pode ser equipado nas grutas de cada região.

Um exemplo de mini-chefe do game

Fui enganado por Maneater (mas foi bom)

Quando assisti ao primeiro trailer de Maneater fiquei imediatamente interessado, mas achei que ele seria uma espécie de Goat Simulator com tubarões, o que teria os seus próprios méritos, afinal às vezes é bom jogar algo meio descerebrado ou puramente mecânico só para relaxar ou desligar do mundo.

Mas fui positivamente surpreendido ao descobrir que Maneater é, na verdade, um RPG, ou melhor: um ShaRkPG (como os desenvolvedores o definiram), que é ao mesmo tempo simples porém sólido, e acima de tudo extremamente divertido.

É muito gratificante, por mais que isso possa soar errado, atacar um banhista em uma boia de flamingo e depois lançar ele como um dardo nas outras pessoas ou simplesmente saltar metros acima da água assustando um casal de namorados, ou ainda a satisfação que dá ao derrotar aqueles malditos jacarés sebosos que me mataram bastante quando eu era só um bebê tubarão, mas que agora consigo engolir com uma única mordida.

Furar umas boias e uns desavisados

Outro ponto positivo é que você não precisa fazer todo o planejamento que um RPG mais complexo exige e como não existe uma árvore de habilidades gigante que te faz perder um tempo pensando por onde começar a investir, é só jogar e se divertir.

É tudo muito simples, direto e didático, mas é uma simplicidade não te tira a liberdade de customizar a sua própria máquina de matança e destruição.

E se a parte de melhorias e evoluções são simples, o combate segue a mesma linha de que menos é mais, mas sem deixar de lado o desafio. É preciso esperar a hora certa para desviar e o momento propício para atacar para assim causar danos mais consistentes, no que literalmente se torna um balé aquático sanguinário.

Existem predadores muitos níveis acima do seu, cuidado onde nada

Diversão em alto mar

Falando um pouco dos aspectos técnicos, a trilha sonora de Maneater é boa, mas senti falta de um tema que se sobressaísse mais ou até mesmo músicas licenciadas, seria muito interessante a inserção de algumas clássicas da surf music como Wipe Out do Surfaris ou Misirlou de Dick Dale em alguns momentos.

Por outro lado, para suprir essas ausências temos um narrador que acompanha tudo o que estamos fazendo, bem ao estilo Discovery Channel, que é simplesmente fantástico, com piadas e observações bem colocadas, além de algumas curiosidades.

E como o game é cheio de referências a cultura pop nos colecionáveis, que vão desde O Náufrago, passando pelas três conchas do filme O Demolidor do Stallone até chegar em Bob Esponja, o papel do narrador é essencial, sempre que você acha alguma coisa ele conta uma historinha.

Com certeza Maneater não seria o mesmo sem ele, o que é mais um ponto positivo para a dublagem e localização em português, mas se você preferir jogar em inglês o narrador é tão bom quanto e é vivido por Chris Parnell, comediante do SNL e dublador do pai do Morty em Rick e Morty.

Gráficos muito bonitos tanto na superfície como nas profundezas

O único problema relativo a performance que tive com o título foi com queda de frames quando muitos caçadores estavam atrás de mim ou ao usar meu poder elétrico para atordoá-los, e apesar de ter acontecido algumas poucas vezes já foram vezes o suficiente para que precisasse falar sobre isso aqui.

Um detalhe que não foi um problema para mim, mas que tem potencial para incomodar algumas pessoas, é que a variedade de missões disponíveis não é tão grande assim  e consequentemente algumas tarefas podem soar repetitivas a partir da metade do game.

Essa é uma armadilha que alguns jogos de mundo aberto caem tentando fazer parecer que existe mais conteúdo, e aqui não foi diferente.

Já no quesito gráficos, os cenários de Maneater chamam a atenção e são bem bonitos, tanto a parte submersa como a superfície, e a escolha de criar um game com visual mais cartunesco e menos foto realista foi uma decisão muito acertada, na minha opinião.

Aliás, decisões acertadas são lugar-comum aqui e realmente fiquei impressionado em como o game é bom, e caso você esteja procurando algo divertido, simples e um RPG com uma temática diferente, com certeza não vai se decepcionar.

O único porém é que talvez depois de jogar você pense duas vezes antes de entrar no mar de novo.

Maneater é lotado de referências a cultura pop em geral

A análise de Maneater foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.


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Papai Platina
(Pouco) conhecido como Willian. Marido, pai de três filhos maravilhosos, fã de Stephen King, filmes toscos e trophy hunter nas horas vagas. No Twitter como @papaiplatina e willianmarques na PSN.