Análise RIDE 4 (PlayStation 4)
RIDE 4 é um jogo de corrida belíssimo e desafiador que vai exigir toda a habilidade do jogador que quiser dominar as motocicletas mais rápidas do mundo.
Em uma manhã na semana passada eu decidi que não largaria RIDE 4 até vencer a minha primeira corrida do modo de carreira. Eu já tinha aprendido o traçado da primeira pista canadense mas apesar da minha Yamaha YZF-R6 ter a maior aceleração e velocidade final em relação aos outros pilotos, eu estava perdendo muito tempo nas curvas e acabava sendo ultrapassado pelos rivais que ficavam cada vez mais difíceis de alcançar. Decidi então procurar uma moto nova e encontrei, por um preço que eu poderia pagar, uma Kawazaki Ninja ZX-6R que prometia melhor manuseio nas curvas. Na minha primeira tentativa, pulei da nona posição anterior para o quarto lugar. Não era o suficiente.
Agora eu iria, ou melhor, eu precisava ajustar as regulagens da minha motocicleta se quisesse melhorar. Mudei a compressão das molas dianteiras e traseiras já que as instruções diziam que manobrar ficaria mais fácil mas eu perderia estabilidade. Tudo bem, tanto faz ser o quarto ou o último, eu precisava arriscar. Tinha passado o fim de semana todo apanhando dessa corrida e precisava ter algum resultado positivo ou esse seria o jogo mais difícil e inacessível que eu já tive a chance de analisar.
Eu chegava voando nas curvas. Cada freada fazia a traseira da Ninja tremer feito a agulha de um sismógrafo mas dava pra segurar e a primeira volta já me colocou na briga por um dos três primeiros lugares. Era a minha melhor performance desde que eu tinha colocado as mãos no jogo e pela primeira vez era possível ganhar.
Assim é RIDE 4.
Modos de corrida e customização livre
O primeiro contato com RIDE 4 é um tutorial obrigatório que funciona como requisito para acessar o restante do jogo. Você não vai seguir adiante se não bater o tempo exigido pelo jogo. A boa notícia é que depois de algumas voltas, esse desafio fica pra trás e abrimos todas as possibilidade de RIDE 4. Bem, quase todas. O modo Race permite correr livremente em qualquer pista e sob quaisquer circunstâncias (assistências, número de voltas, posição no grid), uma ótima oportunidade de experimentar pistas que apenas os mais insistentes irão alcançar no modo carreira.
A Carreira oferece torneios que são desbloqueados conforme acumulamos pontos em atividades de exibição que são corridas ou desafios de tempo e tenha em mente que aqui a palavra desafio assume o seu verdadeiro significado e vai fazer suar até os jogadores mais frios e pacientes, e a dificuldade é apenas uma parte da barreira. Falo mais sobre isso mais pra frente.
Um dos detalhes mais interessantes de RIDE 4 é a liberdade de customização que ele oferece e eu, que já havia criado a equipe CDS no F1-2020, fui lá e criei uma customizei a minha Yamaha com as cores do Conversa de Sofá além do capacete e uniforme. Estranhamente os elementos da customização são todos únicos e não podem ser salvos para que possamos usá-los em uma nova moto então, lá fui eu recriar tudo quando comprei a Kawazaki Ninja. Prazeroso mas trabalhoso.
Dessa customização, um detalhe incômodo foi não ter as minhas motocicletas disponíveis no modo online e mesmo quando eu corria com um modelo que eu já possuía, a carcaça da moto, meu capacete e traje se apresentavam nas cores originais como eram antes de eu ter modificado. Só posso supor que isso deve ser desbloqueado ainda mais pra frente mas, sinceramente, eu não deveria supor essas coisas, o jogo é que deveria informar. Talvez isso seja assim para evitar mensagens sensíveis nas corridas já que é possível escrever na moto se você for se dar esse trabalho.
Curioso também foi perceber que os pilotos e as provas, embora se passem em circuitos verdadeiros e licenciados, não representam atletas do mundo real e que RIDE 4 não tem qualquer relação ou tenta recriar o Campeonato Mundial de MotoGP, como fazem outros jogos licenciados de corrida.
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Acessibilidade versus autenticidade
RIDE 4 é belíssimo tanto na direção artística como a de som. O ronco dos motores soa como música quando aceleramos nas longas retas que permitem desenvolver todas as seis marchas. Alcançar e até passar dos 300 Km/h em máquinas reproduzidas nos mínimos detalhes é super prazeroso e a sensação de alcançar e ultrapassar os adversários nessas velocidades extremas ou com técnica e habilidade nas curvas é o que me manteve preso no jogo e me convenceu a suportar os aspectos que não são tão satisfatórios. Vamos a eles.
A essa altura, você já deve saber que RIDE 4 não é um jogo casual. Ao contrário, mesmo com a possibilidade de aplicar simulação simplificada da física das motos e com todos os auxílios ligados, as exigências que RIDE 4 faz ao jogador beiram a perfeição, especialmente nos desafios que são requisitos para avançar na carreira e nos quais não temos à mão o recurso de voltar no tempo para corrigir erros. Até as corridas de exibição são difíceis já que os adversários raramente cometem erros e fazem curvas perfeitas mesmo na menor dificuldade possível. Ainda assim é possível vencê-los repetindo a pista e fazendo ajustes na sua moto, o que pega de verdade aqui são os desafios, ou melhor, a repetição deles.
Para um desafio ser considerado vencido, dois requisitos são obrigatórios: tempo abaixo do estipulado e traçado perfeito. Se você sair fora da linha branca, seu teste é dado como fracassado e você precisa reiniciar, se você cruzar a linha final acima do tempo estipulado, idem. O problema de verdade aqui é que para repetir, precisamos passar por um menu tedioso em vez de ter a possibilidade de retomar do início imediatamente, ainda que isso exigisse uma tela de loading. Talvez você queira sim voltar para o menu da corrida e ajustar sua moto mas quando essa opção é obrigatória esse processo todo fica bem maçante já que repetiremos os desafios por várias vezes seguidas antes de conseguir vencê-los. Some a isso o fato de que eles são requisitos para liberar os torneios do modo carreira e pronto: temos uma barreira bem sólida impedindo o avanço do jogador mais casual.
Uma pena que o jogo também não esteja localizado para português brasileiro.
Per Aspera ad Astra
Eu sei que RIDE 4 não está mirando no jogador casual mas no fã entusiasta de corridas e de motos e embora eu esperasse que a barreira de entrada fosse limitada ao que acontece dentro das pistas, essa falha não é capaz de desmerecer o brilho do jogo porque embora seja difícil, controlar as motos mesmo no modo realista, não é tão punitivo como tentar fazer as curvas em um carro de Formula 1. Isso porque os auxílios ajudam nas frenagens mas não no traçado então, obrigatoriamente, você terá que aprender o ponto de cada curva jogando.
Sempre leve em consideração que esse não é um jogo casual e que irá exigir horas e horas de dedicação para conseguir avançar por cada pista e cada desafio. Se você tiver isso em mente, não sairá decepcionado com esse belíssimo jogo, o que é meio caminho andado para se tornar fã e entusiasta dos simuladores de corrida.
Dica para as corridas: tentar cortar caminho resulta em penalidade no seu tempo final. Derrubar um oponente da moto dele, não. Use essa informação com sabedoria.
Nenhuma pessoa ou animal foi ferido durante a grvação dessa cena.#Ride4 #PS4sharehttps://t.co/3XUB9QgqXx pic.twitter.com/02zUZjOwN4
— Diego Matias (@DiegoMatias) October 14, 2020
A análise de RIDE 4 foi escrita graças a uma cópia digital gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.
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