Análise Saints Row (Xbox Series)
Saints Row é mais do que um reboot necessário. Traz uma bela cidade e personagens carismáticos, mas sogre com problemas técnicos e bugs.
Algumas franquias de jogos vão longe demais, em vários sentidos, e assim é Saints Row.
A série de jogos começou com batalhas de gangues em um aberto, cômico e totalmente sem noção, passou pela Casa Branca, enfrentou alienígenas e foi parar no inferno. Não tinha mais como ter um ponto de volta. Por isso Saints Row (2022) é um jogo mais do que necessário. Resetar tudo e começar em uma nova cidade e com novos personagens.
Assim, chegamos em Santa Ileso, uma cidade com cara de Las Vegas, no oeste americano, com muito sol, areia e claro, bandidos. Como em outros episódios da franquia, a trama toda do jogo se baseia nas brigas entre as gangues e no relacionamento entre os personagens.
Agora somos um jovem conhecido como “The Boss”, um homicida profissional. Nosso protagonista tem vários talentos, é um líder carismático que consegue unir todo o grupo, mas desde cedo fica claro que sua maior habilidade é matar um número ridiculamente alto de inimigos seja com qualquer arma ou meio disponível.
Moramos em um apartamento com mais três amigos, onde dividimos não só as festas, contas e claro, muitos roubos, tiroteios e explosões. Neenah é hábil com carros, é uma excelente mecânica e também dirige como poucos. Seu carro é o seu grande amor e não chegue perto dele sem autorização. Kevin é DJ profissional, mas, como é difícil ganhar a vida assim, seu ganha pão é com assaltos. Ele planeja e executa esses crimes com maestria, se tudo der errado é só sair correndo e atirando. E por último temos Eli, um administrador com MBA e também muitas dívidas estudantis para gerir. Com o desenrolar do jogo, ele se torna o gestor dos negócios dos Saints.
Todos os membros do grupo fazem bicos para conseguir sobreviver e fazem parte de alguma gangue da cidade. The Boss, no inicio do game, é um novato na Marshall, uma organização militar privada com um grande poderio tecnológico bélico. Eles tem hierarquia, grana e muitas, mas muitas armas. Já Neenah trabalha para Los Panteros, além de motorista, é falsificadora e muito bem conceituada na gangue, está lá desde que chegou na cidade. A última gangue principal são os Idols, uma espécie de seita que não idolatra um deus, mas ideais e muita, mas muita festa. Eles se vestem com muitas cores neons e capacetes interativos. Os seus membros moram em acampamentos onde as raves não tem hora pra acabar e sempre com Kevin comandando o som em suas pickups.
As coisas parecem se encaminhando para uma vida melhor até que somos despedidos da Marshall e começamos a fazer planos que nunca dão certo até que isso começa a afetar todos do grupo até todos serem expulsos das respectivas organizações. O que poderia ser o fim do grupo, na verdade é oportunidade, porque não criar nossa própria gangue? Assim se forma os Saints.
Como base temos uma igreja abandonada, um belíssimo e decadente cenário. Aliás, cada canto de Santa Ileso é um show a parte. Todos os distritos da cidade contém parques, monumentos, construções belíssimas. Dá gosto rodar pela cidade, seja de carro ou moto observando a criatividade e todo o trabalho de arte do jogo.
Os gráficos parecem um pouco datados, não que sejam feios ou toscos, mas estão longe do que esperamos no terceiro ano de nova geração. Vale ressaltar que Saints Row também saiu para PlayStation 4 e Xbox One, então algumas limitações talvez sejam por causa disso e, na minha opinião, aceitáveis.
Já o enredo é bastante divertido.
Durante as missões principais você vai conhecendo um pouco mais das ligações entre os personagens criando um laço como de uma família mesmo. Talvez tivesse espaço para se aprofundar em todos, mas isso aqui é Saints Row, e os pontos principais são humor e ação.
E caso você seja daqueles que não fica contente só com as missões principais, o game é um prato cheio. Você tem diversos bicos para fazer, como perseguir uma lista de procurados, desafios pra cumprir, dezenas de negócios para administrar e proteger e missões paralelas em quantidades absurdas, fora ficar dirigindo em atirando feito um louco como muitas pessoas fazem em jogos do gênero.
Conforme ganhamos experiência, desbloqueamos novas habilidades que abrem um leque para os combates. E esse é um ponto alto do jogo, existe muitas formas de derrotar seus adversários, seja com socos, chutes, finalizações, armas de fogo, barra de ferro, explosivos e afins. E tudo isso funciona muito bem, desde que você não se apegue em o quanto é irreal é tudo isso. Alguns personagens levam uma rajada de metradora na cabeça (desprotegida) e tá tudo bem, só diminui um pouco a barra de vida. Nosso protagonista, nesse quesito, é campeão. É uma espoja de balas, você pode ficar parada recebendo bala e não morre facilmente.
Não que tudo seja fácil no jogo, as batalhas ficam cada vez maiores e os inimigos adoram pedir reforços. Então vão se formando hordas e hordas até terminar uma missão que parecia simples. Joguei na dificuldade padrão e não posso dizer como funciona nas outras opções de dificuldade.
Essas premissas irreais de combate também se aplicam a outros elementos do jogo como a física de objetos. É normal seu carro voar por muitos metros de altura se você bater num meio fio, numa placa de transito ou em uma pequena duna no deserto. Tudo no jogo voa, explode ou se mexe como não deveria. Se você gosta de simulações realistas, passe longe.
Então, se o jogo tem uma boa história, personagens carismáticos, um cenário lindo, complexo e batalhas divertidas, ele é quase perfeito, certo? Longe disso. A versão disponibilizada antes do lançamento é recheada de bugs. The Boss repetidamente fica travado, sem conseguir se movimentar. Algumas vezes não consegue segurar corretamente a arma, e não para por aí.
Os inimigos às vezes travam e ficam parados também ou têm uma inteligência artificial quase inexistente. Os motoristas no trânsito também dirigem loucamente e colidem das formas mais estranhas possíveis mesmo sem serem provocados.
Parece que estamos cada vez mais acostumando a grandes títulos saírem com muitos problemas que podem ser corrigidos no futuro, mas é bem desagradável jogar assim.
A cada novo bug vem o desânimo só de pensar em reiniciar a missão e perder uma boa parte do seu avanço. Aliás, o jogo poderia ter mais checkpoints dentro das missões e mais pontos de viagem rápida para ter mais dinamismo.
Apesar de tudo isso, acredito que boa parte desses problemas pode e deve ser resolvida com algumas atualizações e correções e, para mim, não chegou a ofuscar os muitos pontos positivos do jogo. Considero que quem tiver a oportunidade de jogar irá se divertir muito nessa cidade tresloucada que é Santa Ileso, ainda mais com toda a turma de The Saints!
Jogamos a versão para Xbox Series disponibilizada pela Deep Silver, mas Saints Row está disponível também para PC, Xbox One, PlayStation 4 e 5.