Análise Souldiers (PS5)
Souldiers une o clássico ao atual ao combinar o estilo vintage dos metroidvanias 16 bits a elementos de um RPG de ação moderno.
Não, não, o título não foi escrito errado. Souldiers — e não soldiers — é o primeiro jogo do estúdio espanhol Retro Forge Games, e tem esse nome peculiar por conta de uma homenagem que parece ser uma fonte inesgotável de inspiração para muitos desenvolvedores: o gênero souls-like.
Mas, apesar do nome, ele acaba tendo menos elementos de jogos do estilo do que ele quer te fazer acreditar por esse nome. Exceto pela dificuldade, que é impiedosa em muitos momentos. Nisso ele é muito mais souls que muitos souls.
Entretanto, Souldiers é, na verdade, um metroidvania inspirado nos clássicos dos 16 bits. E um dos bons!
Com uma pixel art lindíssima e trilha sonora chiptune ele é uma viagem nostálgica que agradará os mais velhos, mas que abraça as conveniências de um jogo moderno, com seu level design intuitivo e didático, combate dinâmico, checkpoints bem espaçados, e outras “facilidades” com potencial para agradar a todos os fãs do gênero.
Isso não quer dizer que por conta disso o título seja um passeio no parque, muito pelo contrário. “Facilidades” não está entre aspas (de novo) à toa. Souldiers é bem desafiador na dificuldade normal (soldier) e cruel no modo difícil (warrior).
Existe um modo fácil (explorer), para aqueles que quiserem uma jornada mais tranquila e com combates menos demandantes, mas este review, reflete a minha experiência jogando, majoritariamente, no modo normal e alguns testes com as outras classes do game no mais difícil.
E que experiência excelente e, ao mesmo tempo, enervante eu tive com o jogo.
Como mencionado ele é um metroidvania com elementos souls-like, e não o contrário.
Do primeiro ele traz todos os elementos clássicos como: exploração e jogabilidade limitadas por itens, ferramentas, ou poderes; incentivo ao retorno a áreas anteriores quando uma nova mecânica é adicionada; quebra-cabeças que incitam a exploração, observação ou uso dos cenários; e verticalidade através de elementos de plataforma.
Já do gênero souls-like, Souldiers traz o combate cadenciado, o desafio baseado na repetição e o ressurgimento de inimigos ao se ativar um checkpoint, que aqui se chamam Dragon Swords. Outros elementos comuns a jogos do estilo, como a perda de recursos após a morte e o uso de uma barra de estamina para realizar ações funcionam com suas próprias particularidades.
Por exemplo, não é necessário retornar ao local onde seu personagem morreu para coletar a experiência perdida, diferente de souls tradicional em que é preciso se arriscar para recuperar esses preciosos recursos antes de morrer novamente. Contudo, você só não precisa fazer isso porque ao morrer a experiência, ouro e itens encontrados entre um ponto de salvamento e outro já foram perdidos para sempre, de qualquer forma. Mas calma, isso é menos grave do que parece.
O sistema de evolução de personagens de Souldiers é mais simplificado, de certa forma, quase automatizado, e devido quantidade generosa de checkpoints, o peso da perda definitiva dessa experiência e a influência dela nos seus atributos é menos importante.
O jogador não precisa se preocupar em acumular pontos para gastar em diversos status como força, destreza, vida ou nada do gênero, já que existe uma única barra de XP geral, e toda vez que você salva o jogo em uma dragon sword essa experiência acumulada fica “estocada” e não pode mais ser perdida.
Essa experiência é obtida matando inimigos e ao atingir um limiar seu personagem sobe de nível, ganhando automaticamente 1 ponto de vida, 1 de mana, 1 de estamina e 1 ponto de domínio — usado para liberar novos golpes e vantagens passivas.
Outros atributos como poder de ataque são vinculados a sua arma — que pode ser melhorada nos ferreiros — e aos amuletos equipados, que além do aumento no dano oferecem bônus como maior dano ou proteção elemental, mais ouro recebido, mais pontos de estamina, etc.
Então, completar as missões secundárias, explorar bem os cenários para conseguir amuletos melhores (eles têm níveis), materiais de upgrade e ouro são de suma importância para conseguir passar menos sufoco em Souldiers. Principalmente nos Chefes.
Já o uso da estamina é totalmente vinculado a manobras defensivas, e funciona basicamente como uma barra de postura.
Ao desviar de um ataque sua estamina não é consumida, mas existe um atraso de mais ou menos 1 segundo até que você possa rolar novamente, nesse ínterim você pode pular para se afastar do inimigo (o que nem sempre é uma opção), e essa é uma ação que também não gasta essa estamina, ou ainda defender usando o escudo. E, ao contrário das outras opções, usar o escudo é a única manobra que consome estamina.
E por que isso é tão importante?
Porque essa estamina demora muito para regenerar naturalmente e sem ela nenhum ataque pode ser defendido, deixando o jogador vulnerável a 100% do dano recebido.
Existem poções que recuperam instantaneamente essa barra, mas a gestão delas tem que ser feita criteriosamente porque elas não são abundantes nos cenários e são caras no vendedor, assim como todas as outras poções, inclusive as de cura.
Muitas vezes, principalmente no início do game, quando ainda não tinha acumulado ouro suficiente, dependendo do quanto houvesse progredido ou da distância do checkpoint, eu preferia morrer ao ter que gastar uma poção, sabendo que ela poderia me fazer falta em uma luta contra um Chefe.
E falando nisso, os Chefes de Souldiers são um show a parte. Eles são desafiadores, intimidadores e bem mais variados do que eu esperava.
Será preciso usar tudo que aprendeu para derrotá-los. Não será fácil, mas com calma, entendimento dos padrões de ataque, resistências, fraquezas, hora certa de defender, desviar, bater (mesmo que os golpes não usem estamina isso aqui não é um hack’n slash) também não será impossível. Algumas batalhas dependem muito do cenário e funcionam como puzzles, o que deixa tudo ainda mais instigante, frenético, e com pouca margem para erro.
Mas um dos sistemas mais interessantes de Souldiers é como ele lida com os elementos.
Durante a exploração você encontrará Orbes Elementais, que além de garantir propriedades de um determinado elemento ao seu ataque, também podem ser usados para ações contextuais.
Por exemplo, o primeiro que encontrei foi o Orbe Ígneo, que adiciona fogo a todos meus golpes, mas que também serviu para acender tochas apagadas e iluminar áreas escuras, ou queimar teias de aranha que antes bloqueavam o caminho.
O interessante dessa mecânica é que você encontrará outros orbes com propriedades diferentes e eles podem (e devem) ser alternados durante o combate, ou em quebra-cabeças, usando o direcional do analógico, de forma simples e rápida.
Dominar essa troca é vital, já que cada inimigo, assim como você, tem fraquezas e resistências variadas, e em algumas dungeons é muito comum que você tenha que lidar com adversários suscetíveis a elementos totalmente diferentes, o que deixa as coisas bem mais apimentadas.
Diante de tudo que foi exposto vamos à pergunta de 1 milhão de reais:
Vale a pena?
Souldiers é um ótimo metroidvania e os elementos souls-like dele trouxeram um desafio a mais para a brincadeira. Contudo, muitas vezes esse desafio a mais transformou essa mesma brincadeira em algo não tão divertido assim, e talvez a dificuldade padrão (normal) assuste algumas pessoas. Por outro lado, é para isso que o título tem um modo fácil, e apesar de não existir nada de errado em jogar em dificuldades mais baixas, sei que muita gente não gosta de dar o braço a torcer nesse sentido.
As regiões são bem variadas, e todas as dungeons são imensas, verdadeiros labirintos e cheias de momentos: “Ah, tenho que voltar aqui depois para alcançar aquele baú que não consigo agora”, algo comum ao gênero. E digo isso como forma de elogio.
Cada “bioma” é lindíssimo e a atenção aos detalhes na pixel art, animação e efeitos de luz é fenomenal. É difícil imaginar que apenas 6 pessoas trabalharam no game e conseguiram entregar um produto com uma qualidade estética tão alta e uma jogabilidade tão refinada.
Mas nem tudo são flores, e apesar de alguns problemas poderem ser corrigidos com atualizações no lançamento, dois deles me incomodaram e preciso mencioná-los: a falta de localização em português, uma promessa antiga dos desenvolvedores e da publicadora Dear Villagers, e troféus bugados.
E eu sei que troféus e achievements são para um nicho específico de jogadores, e que a maioria não se importa, mas eu sou parte desse nicho, e me importo. Isso atrapalhou a minha diversão? De forma alguma.
Souldiers é incrível e gostei muito da minha experiência (mais do que eu imaginava), e espero que resolvam essas duas questões rapidamente, assim terei a desculpa perfeita para retornar ao game para mais uma rodada de desafios, raiva e felicidade. Tudo em um mesmo pacote. E que belo pacote.
Atualização em 30/05/2022: O update 1.002.000 acrescentou português como linguagem disponível.
A análise de Souldiers foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game. Também disponível para PlayStation 4, Xbox One, Xbox Series, Nintendo Switch e Microsoft Windows.