Análise Spaceland (PlayStation 4)
Spaceland é um jogo indie que simplifica as mecânicas do gênero de tiro tático por turnos. Com gráficos cartunescos e uma trama simples, vale a pena se aventurar?
O jogo começa com a interceptação de um chamado de socorro pela nave dos Space Rangers, o que os leva a um planeta inóspito, onde devemos descobrir o motivo do chamado ao mesmo tempo que lidamos com uma espécie alienígena hostil? Parece familiar, não? Esse é o pontapé inicial para a aventura de Spaceland. Começamos com dois personagens iniciais, Jim e Barret, investigando a origem do final de socorro e eventualmente encontrando novos personagens que, eventualmente, unem-se à equipe, cada um com uma especialidade.
A jogabilidade de Spaceland segue a cartilha de tiro tático por turnos e não nega a inspiração em XCOM. Cada personagem tem um número limitado de pontos de ação e pode utilizá-los para movimentação, ataque ou uso de habilidades. A movimentação ocorre em quadros e os personagens não podem atravessar um ao outro. Se um personagem estiver no caminho é necessário contorná-lo, deixando o caminho mais longo e gastando mais pontos de ação. Os cenários possuem mecânicas de interação, como barris que podem ser movimentados e destruídos, gerando uma explosão, plataformas que caem com o peso dos personagens, além de obstáculos que servem como proteção, mas podem ser destruídos após alguns ataques. Tal como em XCOM, os movimentos dos personagens podem ser estendidos (consumindo todos os pontos de ação) ou limitados, abrindo a possibilidade de um ataque aos inimigos dentro do campo de ação.
Em relação ao combate, a natureza tática de Spaceland impõe uma limitação de movimentação e no início do jogo, também de ataque pois não podemos atirar diretamente nos inimigos, mas apenas reagir à movimentação deles. Para não dizer que ficamos totalmente à mercê dos aliens, podemos dar um chute, que empurrar os adversários para um quadro adjacente, causando muito pouco dano. Assim, devemos nos posicionar de acordo, prevendo a movimentação dos inimigos para pode atacá-los. Essa dinâmica inicial ajuda a criar um certo desafio nas fases iniciais, já que o desenho das fases é bastante simples, pois conforme avançamos, são desbloqueadas novas armas e personagens que permitem novas interações de combate, inclusive o ataque simples e corriqueiro tanto esperado.
Quanto ao desenho das fases, os cenários são simples mas funcionam bem como uma espécie de tabuleiro para o xadrez proposto por Spaceland. Geralmente, o objetivo de cada fase é alcançar determinado local, objeto ou personagem ou eliminar todos os inimigos. Cumprida a missão, somos livres para extrair os heróis. Contudo, cada fase possui objetivos secretos que podem ser encontrados com um pouco de exploração, à custa de encontrarmos novos inimigos. O desafio de encontrar esses objetos secretos me pareceu um pouco desbalanceado pois o risco é bastante alto para uma recompensa singela: alguns pontos de experiência e logs de texto que ajudam a entender melhor o mistério do planeta.
Os inimigos compõem bem o conjunto e se não oferecem um desafio monstruoso (rá!), atrapalham a nossa trajetória de forma competente, pois cabe a eles complementar o level design e impor o raciocínio tático aos jogadores. Simplesmente atirar não vai funcionar, pois é necessário algum distanciamento de uns 3 quadros para contra-atacá-los. E conforme nos movimentamos, podemos cavar a nossa própria cova com más escolhas, pois a munição é finita, assim como a movimentação dos personagens. Alguns inimigos precisam de mais tiros, outros protegem-se atrás de objetos ou precisam sofrer um ataque específico, obrigando-nos a pensar cuidadosamente em cada comando a ser dado.
Tecnicamente, gráficos e música acompanham a simplicidade do jogo. Spaceland tem gráficos simples, que não exigiram muito do PlayStation 4 e, por sua abordagem cartunesca, pode ser jogado livremente por crianças e adolescentes, sem qualquer receio quanto à violência. A trilha e os efeitos sonoros funcionam de forma competente e acrescentam à tentativa de criar tensão.
Observando esses aspectos, daria para afirmar que Spaceland é um jogo muito competente no que se propõe. Todavia, existem alguns pontos negativos, por assim dizer, a começar pelo roteiro, muito genérico, falha em capturar a atenção do jogador para a trama. Da mesma forma, os personagens são estereotipados e sem carisma, cometendo diálogos sofríveis. Também existe um problema de equilíbrio da dificuldade do jogo, pois embora as mecânicas e o gameplay funcionem muito bem, o jogo autoriza que as fases sejam terminadas sem que os objetivos secretos sejam localizados ou qualquer penalidade pela morte de um dos personagens. Assim, se optamos por buscar os segredos nas fases, a dificuldade aumenta sobremaneira, mas se por outro lado, deixamos tais segredos de lado e não nos importamos em perder um ou outro personagem, tudo fica fácil demais.
No entanto, considerando a abordagem mais simplificada de Spaceland ao gênero, pode-se dizer que Spaceland acolhe bem os jogadores, como uma boa introdução às mecânicas consagradas por XCOM e agora renovadas também em Gears Tactics. No fim das contas, Spaceland é um bom jogo de introdução à mecânicas mais complexas presentes em jogos táticos, inclusive para crianças, mas dificilmente conseguirá atender a exigência de jogadores mais experientes.
A análise de Spaceland foi feita em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela desenvolvedora pela Tortuga Team. O jogo também está disponível para Nintendo Switch, PC Master Race e Apple Arcade.
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