Análise Star Wars: Jedi Knight II – Jedi Outcast (PlayStation 4)
A Aspyr trouxe para o PlayStation 4 um dos melhores jogos da franquia Star Wars. Um clássico lançado no início dos anos 2000 que merece muito ser conhecido e relembrado.
Em 2002 eu tinha um PC de segunda mão que apesar de não dar conta de nenhum lançamento relevante, me permitiu jogar alguns clássicos pela primeira vez. Entre partidas de Age of Empires II e StarCraft, foi nele que joguei alguns dos lendários jogos de 1998 (Metal Gear Solid e Half-Life) e era nele que eu lia as análises dos jogos que eram lançados, para poder escolher qual deles eu iria baixar juntar dinheiro para comprar. Foi na antiga Games Brasil (o site ainda existe, mas as análises não estão mais lá) que eu tomei conhecimento de um FPS ambientado no universo Star Wars com o estranho nome de Jedi Knight II: Jedi Outcast. Uma obra prima que hoje está disponível para PlayStation 4 e Nintendo Switch.
Tempos Modernos
Jedi Outcast precede várias convenções que são consideradas naturais hoje em dia e mesmo tendo sido originalmente publicado quatro anos após Half-Life ter deixado seu legado na indústria, padrões como ADS (aim down sights) e vida que se regenera com o tempo ainda haveriam de se popularizar nos anos seguintes. Isso e a impossibilidade de inverter o eixo y da mira (detalhe que já foi consertado por uma atualização) me causaram certa estranheza por já estar tão acostumado às pequenas conveniências dos jogos mais modernos.
Nada que atrapalhe a alegria de ver o famoso “letreiro Star Wars” subindo com a premissa do jogo: Kyle Katarn (ex-stormtrooper e ex-jedi/mercenário ) e Jan Ors (piloto da nave Raven’s Claw e parceira de Kyle) são designados pela aliança, a visitar uma antiga base militar que deveria estar desativada mas que demonstra sinais de ter sido reativada pelo Império Remanescente – sim, essa história se passa após o Retorno de Jedi e não no buraco negro que se tornou o período entre A Vingança dos Sith e Uma Nova Esperança.
À primeira vista, o título é um FPS como seus predecessores que se baseavam em Doom mas quase uma década após o primeiro Dark Forces, Jedi Outcast impressionava pelo visual fiel aos filmes e por apresentar um recurso que mesmo hoje, num futuro distante daqueles dias, ainda não é comum: a câmera pode ser trocada entre primeira e terceira pessoa conforme a vontade do jogador. Também fica a cargo do jogador decidir entre dois modos de tiro por arma, sendo que o modo secundário de todas é normalmente o mais indicado nos momentos de tiroteio frenético. E o som, ah, o som dos lasers é maravilhoso! Estar em uma batalha de blasters contra Stormtroopers e desfrutar de um design de som tão icônico era incrível em 2002 e ainda é em 2019, assim como a função de troca de câmera. Claro que atirar com os blasters do império é muito mais simples com câmera original mas esse não é o ponto. Poder escolher torna tudo melhor (dá essa dica lá pros seus chefes, Keanu Reeves).
A possibilidade de troca de perspectiva ajuda o jogador a ter uma melhor noção espacial nas várias partes de plataforma e também a dar aquela espiadinha pelas portas e beiradas antes de se preparar para as batalhas que não são fáceis, mesmo no modo normal chamado Jedi Knight. A recuperação de vida acontece com o uso de itens encontrados em lugares específicos das fases e o escudo protetor, que duplica os pontos de HP, também é recarregado em estações escassas. Antes isso seria contornado com um toque no quick save mas nos consoles essa função não existe, uma pena. Checkpoints mais frequentes também seriam uma mão na roda uma vez que as fases são bem compridas.
Back in The Saddle
Os eventos dos jogos anteriores levaram Katarn a abandonar sua ligação com a Força e se dedicar apenas ao nobre ofício de mercenário mas essa esperança de uma vida tranquila é interrompida quando o Sith chamado Desann decide encontrar o Vale dos Jedi, local mantido em segredo e que foi salvo por Kyle no passado. Uma sequência de eventos após o terço inicial do jogo coloca o jogador tendo que resolver um quebra-cabeças para reaver um objeto importante e essa fase é um bom exemplo de como o desenho das fases de Jedi Outcast ficou um pouco datado. O excelente PodquestBR tem um vídeo que exemplifica muito bem como hoje em dia certas escolhas de design ajudam a guiar sutilmente o jogador pelas fases e jogar Jedi Outcast é testemunhar um tempo anterior a essas convenções.
Não há mapa a ser consultado (em defesa do jogo, as fases não são tão complicadas), qualquer indicação sobre qual direção seguir ou quais comandos acionar nas instalações do Império. Some a isso a escolha dos desenvolvedores em construir níveis com ramificações verticais e temos um novo desafio: descobrir como prosseguir para avançar. No quebra-cabeças que citei as soluções são bastante criativas e deixar o jogador resolver um problema com as ferramentas que possui é positivo mas também nele como nas fases, as coisas podem ficar bem pouco intuitivas.
Eu adoraria não precisar falar sobre essa próxima parte do jogo e deixar a “surpresa” para quem for jogar mas não seria justo. Afinal, não se faz um jogo chamado Jedi Outcast sem Jedis e essa é a cereja do bolo, amigos.
Quando temos a oportunidade de usar os poderes da Força, o Sabre de Luz e ser um Jedi, o jogo que era um FPS desafiador com uma temática cativante se transforma num dos melhores jogos do universo Star Wars. A física e o comportamento dos inimigos que antes reagiam a explosões e disparos de laser agora estão à disposição do jogador para tocar o put experimentar os efeitos dos novos poderes sobre eles e, assim como nos jogos seguintes da série Force Unleashed, arremessar Stormtroopers com a Força ou desmembrá-los com o Sabre não enjoa nunca!
Mas isso é só o começo porque uma das premissas da aventura é que o Império Remanescente está fazendo experimentos com a Força, o que nos coloca cara a cara com vários grupos de novos Sith e em combates inesquecíveis com o Sabre de Luz.
Arma elegante. Tempo civilizado. #StarWarsJediOutcast #PS4sharehttps://t.co/AILXn35rNK pic.twitter.com/MHqWSkljcP
— Diego Matias – #SuperContraPodcast (@DiegoMatias) October 18, 2019
Tempo Perdido
Foi uma maravilhosa surpresa receber a notícia do relançamento desse clássico. Jedi Outcast (junto com Jedi Academy, que será lançado em 2020) é lendário não apenas pelo excelente jogo que é e por nos fazer sentir parte de um universo tão rico, mas também por pertencer a uma época mais simples (mais civilizada?) da indústria em que lançamentos raramente estavam envoltos em controvérsias como microtransações e práticas agressivas de proteção contra pirataria.
Para quem pôde jogar esse título no passado esse lançamento é uma magnífica experiência nostálgica. Quem não jogou os jogos anteriores aos Star Wars Battlefront dessa geração, poderá conhecer no conforto de um console de mesa, um dos melhores jogos de ação e aventura dos últimos 20 anos.
A análise de Star Wars – Jedi Knight II: Jedi Outcast foi escrita com base em uma cópia de PS4 fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.