Análise Star Wars: Squadrons (PS4)
Star Wars: Squadrons traz de volta a essência do combate entre naves do universo Star Wars em um jogo em primeira pessoa divertido, bonito e imersivo.
Que Star Wars é uma das propriedades intelectuais mais importantes dos últimos 50 anos ninguém discorda, goste ou não do que é feito sob o seu nome ela é um marco para o cinema, para o merchandising e responsável por um fenômeno cultural atual interessante: a aceitação do Nerd.
Obviamente Star Wars não inventou o Nerd em si, mas a transformação da cultura pop de nicho em algo mainstream e consequentemente a elevação do fã/nerd a uma posição de destaque na sociedade de consumo deve muito a Star Wars.
Assim como a maioria dos fenômenos ele não surge apenas em um local e se espalha em diversas línguas, formatos e cores e domina o mundo. E Star Wars vem fazendo isso consistentemente desde 1977, reavivando a paixão (e às vezes a fúria) de nerds no mundo inteiro a cada obra lançada.
E o mais novo produto de mídia atrelado a marca é Star Wars: Squadrons, game desenvolvido pela Motive Studios e publicado pela Eletronic Arts, lançado em 02 de outubro de 2020 para PlayStation 4, Xbox One e plataformas Windows, com suporte a diferentes tipos de controles e marcas de óculos de realidade virtual.
Além dessas possibilidades, Squadrons possui jogabilidade entre plataformas habilitada como padrão, ou seja, em uma mesma partida multiplayer é possível enfrentar pessoas que estejam jogando no PC, no Xbox ou no próprio PlayStation.
Nas muitas horas que joguei desde o lançamento senti que isso foi bem balanceado, sem vantagens significativas para nenhuma plataforma, exceto talvez um ligeiro benefício no tempo de resposta de jogadores que estejam usando óculos VR.
Star Wars: Squadrons não tem dublagens em Português do Brasil como Jedi: Fallen Order, mas está legendado e localizado para o nosso idioma. Isso torna a narrativa do título acessível, e apesar de todos os clichês característicos do universo Star Wars estarem presentes aqui a história é boa, melhor inclusive que os últimos filmes da franquia, o que convenhamos não é tão difícil assim.
O Fator EA
Devido às controvérsias envolvendo loot boxes durante o lançamento de Battlefront 2 sempre que a EA anuncia um novo título envolvendo a marca Star Wars uma certa apreensão paira no ar e todos ficam aguardando qual será a pegadinha da vez.
Mas felizmente por conta da pressão feita por fãs, legislações de diversos países e obviamente o peso da mão bilionária da Disney, proprietária dos direitos da marca, fizeram com que a EA abandonasse certas práticas com a franquia e isso resultou em 3 jogos muito bons até agora: a reestruturação do próprio Battlefront 2, que foi de um desastre a um jogo excelente em poucos meses; Jedi: Fallen Order, um dos single players mais aclamados pela crítica no seu lançamento e agora o divertidíssimo e desafiador Star Wars: Squadrons.
Quando a EA mostrou o primeiro gameplay de Squadrons em junho de 2020 eu fiquei balançado, Fighter Squadron e Starfighter Assault eram um dos modos que eu mais gostava em Battlefront 1 e 2 respectivamente, contudo será que um jogo focado apenas nesse aspecto conseguiria se sustentar hoje em dia?
Além disso, meu maior receio que era eles optassem por tornar o combate de naves mais voltado para simulação e menos para o arcade, mas felizmente (pelo menos para mim que tenho dificuldades com simuladores) esse não é o caso.
Obviamente Squadrons é mais complexo que os modos presentes nos jogos anteriores, mas é uma dificuldade bastante intuitiva e em pouco tempo você já estará habilitado como piloto da Aliança Rebelde ou do Império.
Em uma galáxia muito, muito distante
A falta de um HUD mais tradicional talvez seja o que faça o jogo parecer mais complexo inicialmente do que ele realmente é.
Em Squadrons o jogador precisa se orientar pelos instrumentos do painel da nave. São 8 disponíveis, 4 de cada lado da guerra, e apesar do layout ligeiramente diferente o funcionamento básico é o mesmo. Uma analogia boa seria com o painel de um carro, apesar de marcas diferentes terem formatos de instrumentos distintos você sabe mais ou menos onde está a seta, o limpador de para-brisas e os controles do ar condicionado.
Do lado esquerdo das naves fica o radar, que na minha opinião funciona mais como um enfeite já que se guiar pelo visual é mais fácil, um indicador de velocidade e indicadores de luzes dos três sistemas principais de cada uma: sistema de propulsão, de poder de fogo e de escudos em se tratando de naves da Aliança Rebelde, no caso do Império as naves não tem sistema de escudos, mas contam com um redirecionamento de dano e velocidade melhores para compensar.
Do lado direito é possível acompanhar a integridade da nave, enquanto na parte central ficam os indicadores das quantidades de mísseis, o dróide de reparos e os equipamentos de contra medida para defesa contra mísseis adversários, além do indicador de trava de mira.
Pense na seguinte situação: no meio de uma batalha intensa você precisa fugir para dar tempo do dróide recuperar um pouco a saúde da sua nave, para isso você resolve canalizar a energia do sistema e priorizar a propulsão com um simples toque no d-pad para a esquerda e assim conseguir fugir à velocidade máxima. Passado o perigo chegou a hora da vingança, você vai atrás daquele inimigo que te perseguia e quer atacar com todo o seu poder de fogo disponível: basta apertar o d-pad para cima e concentrar a energia da nave nos seus lasers, se ele ou os amigos contra-atacarem, você pode tentar garantir um reforço nos escudos ao tocar no d-pad para a direita.
Essa alternância na canalização de energia da nave é a mecânica central de Star Wars: Squadrons e usar ela no momento certo é a diferença entre uma boa partida e um desastre colossal.
Também é preciso saber quando e o quanto atirar para não sobrecarregar o sistema de tiro, quando vale a pena usar a defesa contra mísseis adversários ou quando é melhor usar manobras evasivas e principalmente quando é preciso focar na eliminação de inimigos individuais e quando focar no objetivo em equipe, tanto na campanha single player como nos modos multiplayer.
Pew pew pew pew
Toda a narrativa de Squadrons é apresentada de forma linear no modo campanha e nela o jogador alternará entre missões com pilotos da Aliança e outras com o Império aprendendo as nuances de cada veículo. Apesar dos sistemas similares cada nave possui suas particularidades: uma X-Wing é mais rápida e fácil de manobrar, mas tem um casco mais frágil, enquanto uma U-Wing é mais resistente e tem poder de fogo maior, mas é mais lenta e portanto um alvo fácil para o esquadrão inimigo.
Cada nave pode ser personalizada com equipamentos mais poderosos ou de diferentes funções que podem ser adquiridos com uma moeda própria do jogo conquistada ao subir de nível ou cumprindo objetivos no modo online. E enquanto essas mesmas personalizações podem ser feitas no modo campanha nesse caso elas são guiadas de acordo com o objetivo que a missão exige no momento.
E mesmo tendo uma história bem decente fica evidente que o single player de Squadrons é um grande preparatório para o jogador entrar totalmente capacitado no modo multiplayer, onde o verdadeiro teste de habilidade será colocado a prova.
O multiplayer conta apenas com 3 modos: Combate Aéreo, onde dois times de 5 jogadores se enfrentam no popular mata-mata; Batalha de Frotas x IA, em que o jogador enfrenta inimigos, destrói e defende objetivos contra a inteligência artificial do game (esse modo pode ser jogado em co-op) e o modo Batalha de Frotas Ranqueado, que tem as mesmas características do anterior com a diferença desse ser uma disputa entre jogadores humanos (e alguns bots para aumentar o escopo), sendo este, na minha opinião, o melhor modo do jogo.
Diferente do Combate Aéreo em que as partidas duram até 15 minutos o modo Batalha de Frotas dura até meia hora e durante esse tempo o jogador alterna entre três tipos de jogabilidade: um início mata-mata mais curto sucedido por fases que envolvam atacar e destruir duas fragatas colossais (ou defender as suas do ataque inimigo), passado esse tempo de ataque (ou defesa) os times invertem a proposta, o time que estava defendendo passa a atacar e vice-versa.
Quando um esquadrão consegue destruir as fragatas adversárias a terceira fase do modo começa, onde é preciso destruir uma nave maior ainda, seja uma MC-75 para o Império ou um Star Destroyer para a Aliança. Se o time que estiver atacando não conseguir destruir essa nave-mãe, o outro time que teve as fragatas destruídas terá uma nova chance para destruir as fragatas inimigas. Essa alternância acontece sucessivamente até que um dos lados consiga destruir o objetivo final e vencer o modo.
É um jogo de xadrez estelar que depende muito da cooperação entre o time e do balanço correto entre naves, um time em que todos os jogadores escolhem o mesmo tipo de nave, por exemplo, está fadado ao fracasso.
Um esquadrão composto por 5 TIE Fighters ou 5 TIE Interceptors vai se sair bem na primeira fase, mas não vai ter poder de fogo suficiente quando precisar de bombardeio pesado nos objetivos, onde no caso uma TIE Bomber seria mais eficaz, por outro lado um time só com TIE Bombers estaria muito vulnerável pela baixa velocidade das mesmas.
Além disso um jogador que pilote bem uma TIE Reaper pode ser uma peça fundamental por atuar como suporte reabastecendo os companheiros com munição ou reparando os cascos danificados da equipe quando necessário.
Vale a pena?
Star Wars: Squadrons é muito divertido, bem balanceado e vale muito a pena dentro da sua proposta. É relativamente simples entrar em uma partida e abater alguns caças, mas um pouco mais complexo se você realmente quiser ficar bom nele.
Os mapas são muito bonitos e relativamente variados com diferentes planetas de fundo, destroços e ou asteroides. Existem muitas opções para a customização das naves, tanto na parte mecânica como visualmente e também é possível alterar a aparência dos pilotos com novos capacetes e roupas.
Vale ressaltar que todas essas customizações são feitas com as duas moedas conquistadas dentro do próprio jogo e nada pode se adquirido com dinheiro de verdade.
Por ser um título exclusivamente de batalha de naves não espere partes com exploração de cenários, colecionáveis ou combates com sabre de luz, você assume o papel de um piloto e isso é a única coisa que você vai fazer no game: pilotar.
Apesar de não ter equipamentos técnicos para medição de FPS não observei a olho nu nenhuma queda de frames em momento algum e Squadrons rodou perfeitamente bem no meu PlayStation 4 Slim.
A campanha é boa e durante as suas 14 missões, com cerca de 8 horas de duração ou mais dependendo da dificuldade escolhida, há uma alternância de perspectivas entre Império e Rebeldes e apesar de já termos visto antes, afinal Star Wars é basicamente essa dualidade desde o primeiro filme, jogar com os dois lados é interessante.
O modo multiplayer é o carro-chefe de Squadrons e, com certeza, garantirá horas e horas de diversão por um preço relativamente baixo comparado ao professado atualmente (199 reais no lançamento em todas plataformas, bem abaixo dos R$ 349 que se tornaram o padrão agora).
Mas o grande diferencial é que ao usar a perspectiva em primeira pessoa em conjunto com a trilha e efeitos sonoros clássicos, Star Wars: Squadrons faz com que o jogador seja transportado direto para o cockpit de uma nave do universo Star Wars.
E para fãs, como eu, essa é uma experiência de imersão que não tenho a muito tempo com jogos da franquia.
A análise de Star Wars: Squadrons foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.
Nós do Conversa de Sofá acreditamos que o videogames são uma mídia poderosa e revolucionária e que somos muito privilegiados em poder ter acesso a essas obras desenvolvidas por pessoas talentosas do mundo todo. Por isso, nesta época em que somos ameaçados pelo Covid-19, fique em casa e aproveite a oportunidade para jogar muito. Ficando em casa você não só pode apreciar os melhores jogos como também pode contribuir para que possamos voltar à nossa rotina o mais rápido possível, além de salvar vidas.