Análise Streets of Rogue (PS4)
Streets of Rogue é um rogue-lite com elementos de vários outros gêneros que se destaca pelo humor e pelas inúmeras possibilidades de jogabilidade.
Quando jogos se aventuram em misturar vários gêneros o resultado pode ser desastroso ao ponto de nenhum deles ser bem representado ou divertido.
Esse não é o caso de Streets of Rogue, onde um verdadeiro carnaval de mecânicas e gêneros faz um excelente trabalho ao entregar um jogo divertidíssimo, rápido e com dezenas de possibilidades de variação de gameplay.
Streets of Rogue é um rogue-lite 2D feito em pixel art com elementos de RPG, beat n’ up, stealth temperado por um humor venenoso e muitas homenagens e também críticas à sociedade e a outros jogos.
Segundo o desenvolvedor, Matt Dabrowski, quando perguntado via Twitter sobre quais as maiores referências na construção do jogo e a essência que queria capturar ficou ainda mais evidente o caldo que engrossa a sopa de Streets of Rogue: Fallout, Deus Ex, GTA 2, Messiah e Binding of Isaacc.
If I had to pick a top five (in no particular order), it would be Fallout (RPG town-based questing), Deus Ex (emergent experimentation), GTA2 (city-based chaos), Messiah (different opportunities for different character classes), and Binding of Isaac (rogue-lite inspiration).
— Matt Dabrowski (@madguy90) July 22, 2019
Lançado para todas as plataformas em 12 de julho de 2019 e publicado pela tinyBuild, Streets of Rogue tem legendas em português do Brasil e uma localização muito boa, com pouquíssimos erros ou piadas impossíveis de serem traduzidas, além disso existe suporte para coop local e online para até 4 jogadores.
Seja quem você quiser
A história do jogo é bem simples e direta, entregue ao jogador de uma maneira muito divertida durante o tutorial.
Basicamente após vencer as eleições o Prefeito resolve se tornar um tirano e destituir várias liberdades dos cidadãos, inclusive banindo definitivamente os nuggets de frango. Obviamente essa seria a gota d’água para a criação de uma luta armada chamada A Resistência, organização a qual o jogador se junta após passar por um tutorial hilário.
E depois disso o jogador está no controle, você pode escolher 1 entre as 6 classes disponíveis inicialmente, como o Médico que usa clorofórmio para uma abordagem mais sorrateira e sem violência, o Hacker que pode invadir sistemas de segurança e abrir portas remotamente ou o Soldado se preferir ir armado até os dentes tocando o terror.
Após cumprir determinadas ações simples como beber 15 cervejas no mesmo jogo ou subornar 3 policiais o jogador liberará mais classes, como o Metamorfo, o Vampiro, o Lobisomem, o Comediante, o Gorila, o Zumbi, etc. chegando a um total de 24 personagens com atributos e itens totalmente diferentes disponíveis.
E esse é um dos muitos brilhos de Streets of Rogue: a variação de jogabilidade que cada personagem traz para o jogo.
Cada personagem é um universo próprio com vantagens e desvantagens. Por exemplo, o Lobisomem é um ser humano normal com habilidade especial de se transformar quando quiser, obedecendo um pequeno intervalo, ficando assim mais forte e agressivo, porém após o final da transformação o personagem ficará 5 segundos vulnerável.
Além das habilidades existem características e modificadores. Cada personagem começa com uma característica e mais serão conseguidas ao completar as fases, ou a cada 3 níveis conquistados, como descontos maiores em lojas ou proteção da Máfia, por exemplo. Já os modificadores alteram características gerais no gameplay como armas que não quebram nunca, invasão zumbi em todas as fases ou o modificador mais importante de todos os tempos da última semana: 3 vidas.
E se mesmo assim com toda essa variedade nenhum personagem te chamar a atenção existe a opção de criar um do zero, colocando os pontos de atributo e perks da maneira que achar melhor.
Levante, levante da sua tumba
Como Streets of Rogue é um rogue-lite, morrer é permanente e caso isso ocorra em qualquer um dos cenários o jogador terá que começar de novo.
Pronto, estava indo bem… esse jogo não é para mim, odeio esse tipo de mecânica.
Calma lá meu consagrado.
O jogo é muito rápido e as fases são curtas, ao longo da escalada rumo a destituição do Prefeito você irá percorrer 5 fases proceduralmente geradas, que representam os bairros da cidade: a favela, o setor industrial, o parque (mais conhecido como o lugar mais “FDP” do planeta), o centro e a cidade alta.
Cada bairro tem 3 fases, 2 normais e a última com um modificador negativo, sejam bombas caindo aleatoriamente, um robô assassino ou uma zona de guerra, onde todos NPCs atacam uns aos outros ou o seu personagem.
Apesar disso, morrer não é tão punitivo assim, e é até uma oportunidade para variar o uso de personagens, habilidades e modificadores.
E mesmo após a morte o jogador ainda mantém todos os itens que comprou nos gameplays anteriores além de conservar os nuggets de frango conseguidos, que são a moeda para compra desses itens e equipamentos na sua base. O restante do jogo utiliza dinheiro normal mesmo (e esse é perdido ao morrer).
Ao passar por essas 5 fases, a Vila do Prefeito é liberada, mas a única missão disponível é conseguir o seu chapéu. E como o jogador vai obter esse chapéu é o que determinará qual será o final do game. E apesar de ter múltiplos finais basicamente todos são o mesmo com diálogos diferentes, sendo que apenas um é baseado nas suas ações e opinião que a população terá do seu personagem por conta disso.
E não acaba por aí
Não se deixe enganar pelo visual, esse não é um jogo para crianças, e é tão ou mais sanguinolento do que Hotline Miami. Tudo isso com uma trilha sonora cheia de sintetizadores composta por Craig Barnes deixando tudo mais frenético.
Streets of Rogue compensa a pixel art simples com uma dificuldade bem balanceada e um humor delicioso. Por vezes o jogo pega a barreira do politicamente correto e dá-lhe uma bicuda no meio dos dentes, para depois voltar ao normal.
Toma essa verdade na sua cara, cortesia de #StreetsOfRogue pic.twitter.com/JTKCVbnbtd
— Willian Marques (@PapaiPlatina) July 23, 2019
Recomendo “perder tempo” lendo a descrição de itens, personagens e conversar com NPCs que eventualmente soltam várias pérolas de sabedoria do fundo da alma “pixelada”.
E apesar de alguns personagens como o Senhor de Escravos ter causado polêmica, tudo é muito crítico e irônico, longe de ser exaltação, mas sim uma sátira a comportamentos e vícios, como alcoolismo, tabagismo, uso de Cheetos pelos caras da TI e por aí vai.
A análise de Streets of Rogue foi feita através de uma cópia de PS4 fornecida pelo desenvolvedor.