Análise The Dark Pictures Anthology: Little Hope (PS4)
Little Hope melhora diversos aspectos em relação ao primeiro jogo da série The Dark Pictures Anthology, mas ainda deixa alguns pontos a desejar.
Angela, Andrew, Taylor, Daniel e John.
Esses são os personagens vítimas de Little Hope, segundo jogo da série The Dark Pictures Anthology, desenvolvido pela Supermassive Games e lançado para PC, Xbox One e PlayStation 4 em 30 de outubro de 2020, com distribuição pela Bandai Namco.
Essa série de games é o projeto mais ambicioso dentro da Supermassive Games atualmente e a ideia surgiu após o sucesso do primeiro jogo de terror do estúdio: Until Dawn. O jogo que marca o início dessa antologia foi lançado em 2019 e se chama Man of Medan e você pode ler o review dele escrito por mim aqui.
Inicialmente estão previstos lançamentos anuais de títulos narrativos de survival horror cada um seguindo uma temática específica e independentes entre si (você não precisa jogar Man of Medan para entrar de cabeça em Little Hope), mas com um mesmo narrador chamado O Curador.
A própria natureza do Curador é um mistério até agora, mas tudo leva a crer que ele talvez seja uma espécie de entidade sobrenatural, cujo papel seria o de um guia neutro apesar de pôr vezes eu sentir que ele gostaria de me influenciar para um caminho que se encaixasse melhor em uma narrativa planejada previamente.
A explicação para que a história seja diferente e influenciada pela decisão dos jogadores é de que os livros do Repositório (a biblioteca macabra do Curador) estão parcialmente escritos, mas não finalizados e compete ao jogador preencher as lacunas com suas decisões, determinando assim o destino dos personagens.
E assim como nos jogos anteriores em Little Hope essas decisões têm peso (nem todas) e como consequência existem vários finais possíveis: todos os personagens podem chegar até o fim vivos, alguns podem não conseguir escapar ou todos podem morrer.
Os fantasmas se divertem
A história da cidade e dos personagens de Little Hope acontece em três linhas do tempo diferentes, o que contribui para que a narrativa seja muito mais interessante que a de Man of Medan, por exemplo.
Durante o presente é onde o jogador passará a maior parte do game controlando os personagens citados no início desse texto, que ao se envolverem em um acidente de ônibus não tem outra saída a não ser pedir ajuda em uma cidade local chamada Little Hope (mal sabem eles).
Além disso, existe um prólogo envolvendo personagens que viveram nos anos 70 e que morreram de forma trágica e que dão o tom para uma possível maldição ou eventos sobrenaturais envolvendo a cidade.
E finalmente a linha do tempo que se mistura efetivamente com o presente se passa em 1692 durante o julgamento, condenação e morte de pessoas acusadas de bruxaria na cidade, bem aos moldes do livro As Bruxas de Salem de Arthur Miller.
Essa linha temporal para mim é a cereja do bolo de Little Hope e tentar desvendar o que aconteceu e como isso estão afetando efetivamente o psicológico das pessoas compensa toda a parte lenta e morosa de construção dos personagens no presente.
Não entrarei em detalhes sobre a história visto que em um jogo narrativo. Esse é o ponto mais importante do título, e caso você fique interessado o suficiente ao final dessa análise, vale a pena experimentar todas as reviravoltas dessa história por si mesmo.
Uma turminha do barulho
Assim como nos games anteriores cada personagem tem características inicias que podem ser moldadas de acordo com o rumo da história e as escolhas afetam não só os rumos do personagem, mas também o relacionamento entre eles, o que pode mudar sensivelmente diálogos e situações durante a história, que inclusive poderão ou não acontecer.
Estruturalmente Little Hope não difere dos jogos anteriores e continua com uma jogabilidade em terceira pessoa de exploração bem influenciada por walking simulators e point and clicks, em que o jogador tem que coletar itens, premonições e documentos para montar o quebra-cabeças da história e encontrar uma saída dessa cidade pesadelo.
As premonições são um tipo de colecionável a parte que adoro: através de fotografias encontradas é possível ter uma visão de um futuro possível, que normalmente envolve a morte de um protagonista, e com isso tentar evitar que o pior aconteça.
Obviamente como as premonições serão afetadas pelas escolhas do jogador algumas situações podem nunca chegar a acontecer, mas é um elemento de tensão bacana quando você se vê em um cenário que sabe que um dos personagens corre um perigo eminente.
Além da exploração, Little Hope se utiliza de quick time events para quando é necessário realizar alguma ação mais concreta. E uma das reclamações sobre Man of Medan era que muitas vezes errar um QTA significava a morte de um personagem por um deslize rápido, e apesar disso ainda ser passível de acontecer aqui, existe uma indicação anterior de que esses eventos ocorrerão e assim o jogador pode se preparar melhor para eles.
Unidos jamais seremos vencidos (talvez)
Se você é um leitor assíduo do Conversa de Sofá já deve ter lido em vários textos meus como eu menciono o quanto adoro filmes de terror B, aqueles feitos com baixo orçamento, exagerados e de certa forma até engraçados e menos assustadores que os filmes de horror que se levam mais a sério. E para mim a série The Dark Pictures bebe muito desse gênero de uma forma, que eu pelo menos, considero muito positiva.
Apesar de ser classificado como survival horror, Little Hope é quase um suspense e raramente vai deixar o jogador aterrorizado, apesar da quantidade (até exagerada) de jump scares tentando te assustar a todo momento, o que tem na verdade um efeito contrário de deixar esses momentos cada vez mais previsíveis.
E se mesmo assim você acha que não consegue encarar o modo história sozinho, existem dois modos multiplayer que podem te ajudar a terminar o game.
Em História Compartilhada dois jogadores pré definem, dividem e controlam os cinco personagens disponíveis durante a história. Esse é o modo co-op online do game e é preciso convidar um amigo que possua Little Hope já que não existe matchmaking.
Já o modo Sessão de Cinema é o co-op local e funciona no esquema de “passar o controle”. Esse modo pode ser jogado por 2 ou até 5 jogadores, cada um controlando um personagem, usando apenas um controle e sempre que for a vez do próximo jogador assumir o controle o game pausa e avisa na tela que chegou a hora de outra pessoa tomar as suas próprias péssimas decisões, acrescentando uma pitada extra de sabor na equação.
De certa forma e considerando como com esse modo foi implementado Little Hope poderia até ser considerado um party game. Um bem macabro, mas, mesmo assim, um party game.
Vale a pena?
Little Hope é um jogo interativo muito bom para a sua proposta e a história é contada de forma a deixar o jogador engajado nas suas três linhas do tempo diferentes e o modo como elas se interconectam é bastante interessante.
Os gráficos são bem bonitos, apesar dos cenários abandonados da cidade terem a mesma cara na maior parte do tempo. O modelo dos personagens é um ponto de destaque, principalmente durante os momentos de escolhas quando é aplicado um zoom no rosto de cada um. É possível ver como o como trabalho feito para deixar a captura de movimentos e expressões o mais realistas possíveis ficou excelente.
Contudo, apesar da movimentação dos personagens ter melhorado comparadas ao game anterior, ela ainda deixa a desejar e muitas vezes os personagens parecem bonecos de cera sem vida e desengonçados.
Little Hope tem uma campanha bem curta, com no máximo seis horas no single player, explorando bastante; um pouco mais para a Noite de Cinema, devido às suas pausas para passagem de controle; e cerca de 4 horas na História Compartilhada, por conta dos acontecimentos simultâneos.
Considerando que o título custa metade do que é normalmente cobrado por um AAA e que para entender a história por completo é necessário jogar mais de uma vez, talvez esse não seja um problema para você, mas é um ponto que acho que valia a pena eu ressaltar.
Existe uma reviravolta no final que apesar de ser algo feito para explodir cabeças não me agradou nem um pouco, apesar de entender perfeitamente quem gostar.
Mesmo assim gostei bastante da jornada no geral e estou curioso para o que a Supermassive vai construir para o próximo game da série chamado House of Ashes, revelado em uma cena pós-créditos ao final de Little Hope.
A análise de The Dark Pictures Anthology: Little Hope foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.
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