Análise The Division 2 (PlayStation 4)
The Division 2 apresenta melhorias em praticamente todos os aspectos trazidos pelo jogo original. Washington DC é belíssima e cheia de detalhes nessa excelente sequência da franquia de RPG/tiro da Ubisoft.
Depois do lançamento marcado pelas altas expectativas após um anúncio grandioso na E3 de 2013, o The Division original deixou um gosto ligeiramente amargo na boca dos jogadores que esperavam muito do RPG da Ubisoft. Mesmo assim, The Division vendeu muito, fazendo com que o anúncio de The Division 2 fosse uma questão de tempo. Mas agora que o jogo está finalmente entre nós, as expectativas foram atendidas?
A estrutura de The Division ainda é a mesma. Trata-se de um jogo de tiro em terceira pessoa, que possui seus alicerces em mecânicas de RPG de ação. Progressão com pontos de experiência, desbloqueio de novas habilidades a cada nível, encontros randômicos, dungeons, customização dos personagens e loot. Muito loot. Essa mecânicas, todas estabelecidas no primeiro jogo, foram mantidas, afinal formam o núcleo de jogabilidade da franquia. Mas The Division apresentava alguns problemas que precisavam ser corrigidos em sua continuação.
A campanha de The Division 2 ainda tem a narrativa dissolvida em pequenas cutscenes e diálogos pontuados somente no início e fim de cada missão. Entretanto, desta vez o tom da história é um pouco mais amargo em comparação com a abordagem exacerbadamente ufanista do primeiro jogo. Nesse jogo a Ubisoft apresenta detalhes que ajudam a compreender melhor o impacto da hipotética existência de um grupo para-militar com licença para matar e que não responde a nenhum governo (até por que não existe um) e como a escalada de violência desenfreada pode ocorrer.
Com exceção da estrutura narrativa, que permanece a mesma, o jogo foi melhorado em todos os aspectos. Atirar é tão gostoso e satisfatório quanto o primeiro jogo com um excelente feedback no controle do PlayStation 4. Tudo no jogo flui com mais leveza. Se você jogou o primeiro The Division, sabe que ele era um jogo robusto e, às vezes, um tanto burocrático (até mesmo propositalmente, para entregar um tipo específico de experiência aos jogadores), mas em The Division 2 a movimentação dos personagens é mais leve, inclusive enquanto atravessamos o cenário (foi implementada uma singela mecânica de parkour) e até o acesso aos menus é mais rápido. Tudo funciona com mais fluidez para que possamos focar no combate.
E o combate não decepciona. Em resposta às críticas recebidas em relação ao jogo original, The Division 2 trouxe melhorias em relação ao dano causado aos inimigos. São 04 novas gangues/facções inimigas, que vagamente correspondem àquelas apresentadas no jogo anterior. Agora é possível atirar na bolsa de granadas de qualquer inimigo (que tenha essa habilidade), causando uma explosão em área, sendo possível fazer o mesmo em inimigos com bolsas de gás. Com isso, as granadas especializadas do primeiro jogo não estão mais presentes aqui (ao invés de granadas, podemos acertar objetos como galões de gasolina ou extintores de incêndio para atordoar inimigos). Além da exclusão das granadas, também se foram os itens de melhoria temporária, como barras de chocolate, água, o que torna o combate mais objetivo e menos burocrático. As munições especiais, agora são localizadas em locais específicos das fases e agora são limitadas pela quantidade e não pelo tempo.
Não está fácil #TheDivision2 #PS4share pic.twitter.com/VtnKjOELll
— tiagohardco (@tiagohardco) March 29, 2019
Mas uma das melhorias mais significativas está na resistência dos inimigos. Antes, inimigos mais fortes eram excessivamente resistentes, absorvendo dano incrivelmente alto, com pouca efetividade (ficaram conhecidos “esponja de balas”). Agora a eles foi acrescentada uma camada de proteção que é visivelmente destruída, deixando-os desprotegidos. Na prática, eles ainda resistem a muito dano, mas essa resistência é justificada dentro da dinâmica do combate.
Nada é fácil na vida
Preciso dizer, os inimigos em The Division 2 são muito mais difíceis do que do primeiro jogo. A inteligência artificial melhorou bastante e não é raro ser morto pelos inimigos mais simplórios, das Hienas por exemplo. Agora qualquer pequeno grupo de inimigos consegue se coordenar para flanquear o jogador, colocando-o em situação de clara desvantagem. O dano sofrido pelo jogador é bem maior, o que significa que um combate aberto não é recomendado. A alteração no funcionamento dos itens de cura e gadgets fizeram com que você esteja menos protegido do perigo do que no jogo anterior: assim como os inimigos, os agentes da Divisão também possuem armadura que se quebra com dano, deixando-os vulneráveis aos inimigos. Um verdadeiro diálogo entre mecânicas e construção do mundo, que mostra que The Division 2 foi pensado como algo muito especial.
Exatamente nesse contexto de dificuldade, entra a cereja do bolo de The Division 2: o multiplayer co-op para até 4 jogadores. Embora The Division possa ser aproveitado inteiramente sozinho, sem qualquer limitação de conteúdo, o jogo praticamente pede para que você jogue com amigos, afinal o combate é mais justo quando você tem alguém dando cobertura. Foi mantida a possibilidade de compartilhar loot com os amigos, ao descartar itens que podem servi-los melhor (lembro que isso não existia no jogo original, tendo sido incluído com uma atualização). Também é possível ingressar em sessões de desconhecidos, oferecendo nossas habilidades pois recebemos chamados de ajuda (algo que também podemos fazer) com bastante frequência. Enfim, tudo ficou mais simples e melhor em The Division 2.
A Ubisoft não esqueceu da Zona Cega, um modo multiplayer original, onde podemos caçar melhores equipamentos em uma área onde todos os jogadores podem cooperar entre si, ao mesmo tempo que são uma ameaça em potencial. Em The Division 2 são três Zonas Cegas, distintas. O que mais podemos querer, não é mesmo? Bom, ainda foram ainda mantidas as incursões e modos PvP.
The Division 2 apresenta melhorias em praticamente todos os aspectos trazidos pelo jogo original. Não bastasse tudo funcionar de maneira satisfatória, a apresentação visual de Washington DC é belíssima e cheia de detalhes que ajudam a contar um pedaço da história do jogo e construir uma mitologia sólida para essa franquia distópica. Seja com os áudios dos sobreviventes e políticos (até mesmo dos personagens do jogo anterior), ou Ecos (sim, eles estão de volta), cada elemento apresentado é parte de uma imagem maior utilizada pela Ubisoft para contar sua versão do declínio da sociedade moderna e fazer pontuações, ainda que sutis, sobre a relevância do nosso estilo de vida e qual o custo para mantê-lo. The Division 2 é obrigatório.