Análise Weird West (PS4)
Weird West mistura várias linguagens de gameplay e transforma o clássico gênero de jogos de tiro em uma experiência única!
“Após horas de viagem, você chega a uma construção inacabada, onde algo te incomoda profundamente. O lugar fica no meio de um pântano e o cheiro quente de lama e bichos é mais asqueroso do que o normal. Vasculhando as ruínas, você nota uma saliência no piso de pedra maciça, algo que parece com um encaixe. Não é coincidência que o encaixe seja do exato tamanho da runa que você carrega no bolso que há alguns dias estava em um baú, nos fundos da estalagem que foi cenário de uma emboscada malsucedida. Após descer as escadas reveladas abaixo da pedra, você presencia uma visão grotesca: um homem sujo, com roupas rasgadas e peito nu. A face é monstruosa: um remendo rústico de uma cabeça de porco sobre o pescoço do que um dia já foi um ser humano. Ele não diz nada, apenas ruídos animalescos saem da sua boca. Os olhos dele o acompanham e você percebe algo tão desolador que suas pernas chegam a tremer: à sua frente existe um espelho e aquele homem é você!”
Sejam bem-vindos a Weird West! Um jogo que mistura faroeste com terror; RPG com ação; mundo aberto com histórias interligadas e que podem ser modificadas pela ação do jogador. Parece bom, não? E é mesmo!
Era Uma Vez No Oeste
Começamos nossa primeira jornada com Jane Bell, uma caçadora de recompensas que é forçada a voltar à ativa após um ataque violento da gangue Stillwater para sequestrar seu marido e acabou ceifando a vida do filho do casal. Com o propósito de resgatar seu amor e vingar-se dos bandidos, Jane cruzará o oeste amaldiçoado atrás de respostas. Só não imaginava que iria descobrir uma trama profana com monstros e bruxas no caminho.
A apresentação do jogo é bastante familiar, com visão isométrica do cenário e gráficos em um 3D cartunesco. A direção artística do estúdio Wolfeye é um dos pontos altos do jogo, pois consegue transmitir ambientação opressora de uma região cheia de ameaças sobrenaturais, juntamente com o clássico estilo de faroeste que tanto vimos nas mais diversas mídias. Além da atmosfera bem criada, os personagens, cenários e objetos possuem um visual único, fazendo com que o jogo se destaque e seja uma ótima adição à biblioteca. Outro ponto positivo está na interface localizada para o português brasileiro e com uma vasta gama de opções de customização, que inclui o aumento do HUD para aqueles que, como eu, jogam na televisão.
O gameplay fora de combate se desenvolve em alguns momentos distintos, seja com a exploração dos cenários (abrindo todo tipo de baú e armário, como um RPG que se preze), pelas viagens entre uma cidade e outra, ou ainda nos microssistemas criados para gerenciar o inventário e interagir com objetos na tela. As viagens embora ocorram de forma simples (com a apresentação do mapa, tal como em Indiana Jones), revela novas cidades, vilarejos e locais de interesse em um mundo vasto. Cada localidade possui sua própria dinâmica com personagens relevantes e alinhamentos com as diversas facções existentes no jogo de modo que, dependendo do nosso comportamento podemos ser bem recebidos ou hostilizados ao entrar nesses lugares.
Django Livre
Esse aspecto é um dos mais interessantes de Weird West, pois podemos interagir com quase tudo que vemos no cenário. Um cadáver pode ser saqueado, enterrado ou devorado, por exemplo; a vegetação pode ser queimada ou cortada e podemos nos alimentar com a carne dos animais que tiveram o azar de encontrar uma bala pelo caminho, contanto que ela seja preparada uma fogueira. A riqueza e complexidade nos sistemas de interação também se refletem nos personagens, que podem acidentalmente comer capim pela raiz e alterar o curso de desenvolvimento da história.
No entanto, esses sistemas de interação às vezes conflitam entre si como, por exemplo, no caso da cura do personagem. Podemos cozinhar para voltar os pontos de vida, mas também podemos beber a água potável encontrada nos cenários (ou mesmo água dos cactos) e ficar completamente restaurados e com várias comidas inúteis no inventário. Conflito idêntico acontece com o sistema de caça, pois ao montar um acampamento (o que pode ser feito a qualquer momento durante uma viagem), podemos simplesmente dormir nas barracas que toda a vida é restaurada, não havendo necessidade de caçar. Claro que trata-se de um pequeno detalhe existente em um ótimo jogo, no entanto, essa proposta não parece encontrado seu lugar.
Ainda sobre o gameplay fora do combate, Weird West oferece uma movimentação de personagens bastante fluída, que lembra jogos como Ruiner e Hotline Miami, por exemplo. Há momentos de furtividade, em que podemos utilizar o cenário para permanecer fora da vista dos inimigos, podemos rolar, pular e escalar superfícies, além de chutar tudo que aparece pela frente. É possível segurar objetos como barris de óleo ou TNT para explodir portas e até mesmo pedras no interior de minas, descobrindo baús com itens bem-vindos.
Um dos pontos mais legais de Weird West é que somos livres para explodir o que quisermos, atirar em qualquer um e chutar tudo que aparecer pela frente, mas pagaremos por boas e más atitudes. Como estamos no velho-oeste, caçadores de recompensa não podem ficar de fora e nada impede que um deles cace você, dependendo do caráter de suas ações. Mas também podemos assumir a persona de boa pessoa, ajudando o xerife local com a captura de bandidos à solta, o que é uma excelente opção para ganhar algum dinheiro logo no começo do jogo. No fim das contas, o fator de replay de Weird West é gigantesco, pois podemos assumir papéis diferentes em cada tentativa, fazendo escolhas distintas, com abordagens mais pacíficas ou belicosas. Somos livres para escolher qualquer caminho e o jogo não vai atrapalhar.
Meu Ódio Será Sua Herança
Como um bom jogo de faroeste amaldiçoado, não poderia faltar um tiroteio e Weird West não decepciona. De visão isométrica, o jogo utiliza a mecânica de Twin Sticks Shooter, em que nos movimentamos com um dos analógicos e fazemos a mira com o outro, ao mesmo tempo, como em Hotline Miami, Ruiner, Magicka, Helldivers, Alienation, e vários outros. Temos um arsenal de respeito à disposição e podemos carregar até 06 armas conosco (pistola, espingarda, carabina, arco e flecha, dinamite/molotov e facas/machetes) para dar cabo de qualquer animal imundo que der o azar de cruzar à nossa frente. O combate chega a ser frenético em alguns momentos, pois os inimigos são ligeiros, com destaque para os sobrenaturais que podem inclusive se teleportar. Para dar conta do desafio, além das armas, temos habilidades especiais que são desbloqueadas com itens específicos. “Relíquias de Nimp” desbloqueiam habilidades restritas ao personagem que utilizamos, enquanto um “Ás de Espadas Dourado”, desbloqueia vantagens que são compartilhadas entre todos (fique de olho pois os itens ficam espalhados pelos cenários).
Essas habilidades únicas auxiliam e muito no combate, construindo momentos épicos na narrativa, como uma emboscada na saída de uma taverna, ou o massacre de bruxas com uma investida mortal de facão. Além do auxílio das habilidades, podemos contratar mercenários para nosso bando, aumentando o poder de fogo disponível. Mas fique de olho pois a proposta de Weird West é levada a cabo em todos os momento e qualquer personagem pode perecer durante a aventura, independentemente da importância dele para a história. Use e abuse do quick save.
Além dos mercenários recrutados durante nas cidades visitadas (limitados a uma dupla), outros NPCs podem se juntar em um tiroteio se, no passado recebeu alguma ajuda nossa. Essa mecânica chamada de “intervenção de amizade” é acionada automaticamente quando o desafio se mostra mais intenso (quase sempre) e possui a contraparte “vingança” que ocorre quando matamos alguém com laços familiares no jogo e, quando menos esperamos, somos emboscados na estrada para que uma pessoa ofendida possa servir-se de uma refeição gelada. A única ressalva que eu faria é em relação à dificuldade que pode ser ajustada para cima, pois embora existam momentos de sufoco, é relativamente normal sair dos embates com todos os companheiros vivos.
Fim da Estrada
No mais, Weird West é uma excelente adição à biblioteca de qualquer jogador. Um jogo com boa proposta, executado de maneira competente e divertida. A atmosfera sobrenatural é bem construída, com a existência de bons mistérios a serem desvendados e que se entrelaçam no destino dos 5 personagens jogáveis. A disposição da história por meio da capítulos interdependentes mas com personagens e objetivos próprios ajuda na estrutura geral do jogo e permite a adição de novos personagens com novas jornadas em atualizações futuras de forma natural. Recomendo muito!
Weird West foi desenvolvido pela Wolfeye Studios e publicado pela Devolver Digital para PC, PlayStation 4 e Xbox One e Xbox Series X/S.
A análise foi realizada com base em uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.