Análise World of Final Fantasy
World of Final Fantasy é um jogo singular, independente do impacto criativo da franquia Final Fantasy em toda sua composição. O conceito de batalhar e capturar criaturas é devidamente aproveitado em uma perspectiva promissora.
Sem relação com outros jogos da franquia Final Fantasy, World of Final Fantasy caminha com as próprias pernas. O jogo é o que o seu nome sugere em termos de caracterização, afinal muitos detalhes remetem mais referências e inspirações, especialmente para os fãs, porém almeja encaminhar um rumo diversificado para uma franquia tão forte no mundo todo devido seus traços únicos preservados título após título.
O jogo conta a história dos irmãos gêmeos Reynn e Lann, ambos predestinados guardiões de miragens que perderam suas memórias e acabaram envolvidos em uma série de acontecimentos em Grymoire, mundo no qual personagens e monstros clássicos de toda a franquia Final Fantasy estão presentes e distribuídos por todos os cantos. Em Grymoire os irmãos com auxílio de Tama, uma miragem deixada para guiá-los pela misteriosa Enna Kros, começam a explorar o desconhecido mundo a procura de suas memórias esquecidas.
Grymoire é habitada por personagens chibi chamados de Lilikins e monstros de miragens. Os irmãos acabam se envolvendo profundamente nas questões de vida dos Lilikins, e mais ainda com as miragens, inclusive investindo nas suas habilidades de guardiões de miragens as enfrentando e capturando, assim como aprendemos em Pokémon.
A escrita e direção de Hiroki Chiba sabe como transportar você para dentro daquela história mágica de maneira competente. A história é contada através de lindas animações em CGI, durante o próprio jogo, e quando você menos espera, em forma de animação japonesa. Os diálogos são leves e bem amarrados, muitas vezes acompanhá-los é como participar discretamente dos acontecimentos que ditam a vida daqueles personagens, mas a sensação acaba sendo meio superficial, não conseguindo enriquecer a narrativa. Os diálogos entre os irmãos, por exemplo, algumas vezes parecem forçados, mas costumam ser adoráveis e engraçados, conseguindo transmitir um pouco da personalidade de cada um. A falta de consistência da narrativa está presente, e é notável, todavia não deixa de demonstrar potencial.
World of Final Fantasy é centrado nas batalhas com as miragens. Os irmãos estão juntos até na hora de enfrentar as miragens, lutando sempre lado a lado. Eles assumem um estilo de batalha separado, mas é como se ambos precisarem estar de pé para manter as batalhas equilibradas. O papel dos irmãos nas batalhas é básico, contribuindo mais como equilíbrio de um conjunto, e sua efetividade maior depende das joias de miragens (mirajewels), itens de atributos específicos capazes de favorecê-los. São as miragens que contribuem com a vitória, geralmente na cabeça dos seus guardiões em um conceito de empilhamento.
O sistema de batalhas é o ATB (Active Time Battle), conhecido de longa data pelos amantes da franquia Final Fantasy. O sistema foi devidamente encaixado na proposta de World of Final Fantasy, e mesmo reciclado dos jogos anteriores da franquia, se sobressai pela simplicidade, sem deixar de oferecer uma variedade de possibilidades.
Como é de praxe você decide o estilo e modo de batalha. Há dois estilos: o básico e clássico. O estilo básico limita todas as possibilidades em prol da facilidade e agilidade, funciona através de um modelo customizável no qual você determina os botões para cada habilidade. Quem está começando com jogos do gênero vai encontrar no estilo básico uma maneira acessível de encarar as batalhas, mas os mais acostumados provavelmente vão optar pelo estilo clássico. Algo interessante do estilo básico é quando você está jogando em modo ativo, já que todos os personagens são livres para atacar quando quiser, então é possível poupar tempo apertando um único botão para usar a habilidade desejada.
O conceito de empilhamento possibilita a combinação das miragens com os irmãos, tornando as batalhas unificadas e dinâmicas. Em um mundo repleto de miragens, poder reunir até duas miragens por irmão desencadeia diversas possibilidades. Além de unificar o condicionamento dos irmãos com o das miragens, ativando ou desativando qualquer uma das pilhas você centraliza e descentraliza uma batalha, já que desta forma é possível individualizar ataques e danos. Alguns ataques seus e principalmente dos inimigos podem comprometer o balanço da sua pilha, ocasionando em uma separação complicada. As pilhas são organizadas em uma escala de três tamanhos, as miragens variam entre pequeno (S), médio (M) e grande (L), enquanto os irmãos somente em Jiants (L) e Lilikins (M). Você é livre para escolher quais miragens usar para cada tamanho, desde que não esteja em batalha, levando em consideração o tamanho ocupado pelos irmãos.
As miragens foram idealizadas para se desenvolverem condicionalmente, portanto evoluem, ganham novas habilidades e até transfiguram. Quando uma miragem é capturada, suas condições são resetadas, dando a você a oportunidade de evoluir e manipular a ordem das sementes da árvore de habilidades da sua miragem. O jogo conta com muitas habilidades, cada miragem possui uma quantidade e variedade de habilidades que podem ser “plantadas” em suas árvores.
As particularidades (elementos e fraquezas) de cada miragem e a maneira que você conduz sua árvore de habilidades contribuem no diferencial das miragens, essencial para lidar melhor com as adversidades. Será necessário estudar os prós e os contras de cada miragem em um empilhamento para cada tipo de desafio encontrado. Para facilitar a avaliação das miragens, o jogo possui um sistema de condicionamento bastante completo.
O jogo é grande, tendo de tudo um pouco, como já era de se esperar. Será preciso investir centenas de horas para apreciar e alcançar tudo que é proporcionado. A linearidade da história mantém você quase sempre no caminho certo, e as pequenas aventuras (sidequest) que deveriam tirar você da zona de conforto, soam meio desinteressantes.
É tudo muito bonito sem precisar explorar todo potencial gráfico da atualidade. As ambientações de Grymoire costumam ser ricas e encantadoras, os personagens e monstros tem aparência bem trabalhada e transbordam fofura, e efeitos visuais são colírio para os olhos. A trilha sonora é puro amor, tanto que você vai querer ficar mais tempo nos lugares só para curtir suas lindas canções de fundo.
A concepção de World of Final Fantasy com traços de outros jogos da franquia Final Fantasy, e até mesmo Pokémon, conquista sua própria singularidade. O jogo consegue se sobressair no que se propõe a fazer oferecendo uma simples, mas profunda maneira de se batalhar e capturar criaturas, algo muito idolatrado pelos amantes desta prática popular pelos jogos que a consagraram. Fãs de Final Fantasy saberão diferenciar e dificilmente não apreciarão, especialmente pela quantidade caprichada de fanservice. No mais, será uma diversão incrível.
World of Final Fantasy foi lançado no PC, PlayStation 4 e Xbox One. Análise feita a partir de uma cópia da versão PS4 cedida pela assessoria de imprensa da Square Enix.