The First Berserker: Khazan é o resultado das inspirações da fórmula soulslike
The First Berserker: Khazan possui uma forte identidade, mesmo misturando tudo do gênero nos últimos anos — tanto os pontos positivos quanto os negativos.

Te desafio a fazer um rápido exercício mental: pense em um gênero de jogos que tenha causado mais influência na indústria do que o soulslike ou que tenha gerado mais “cópias” e inspirações nos últimos dez anos. Bom, eu não consigo pensar em outro. É fato que o modelo criado ou aperfeiçoado pela desenvolvedora japonesa From Software revolucionou a mídia para sempre, levando até mesmo jogos de outros gêneros a incorporarem detalhes em suas propostas.
Por conta disso, também causou em mim, e em tantos outros, um certo esgotamento da fórmula — fazendo com que eu ficasse um pouco desinteressado pelo modelo em determinado momento. Porém, grande parte desse desinteresse vinha do fato de que os jogos que buscavam emular o gênero não conseguiam nem mesmo arranhar a qualidade. Mas isso mudou!
De uns três anos para cá, surgiram várias entradas no gênero que deram muito certo. Rapidamente consigo pensar em Lies of P, Lords of the Fallen (2023), Nine Sols, entre outros. Acho que, como toda fórmula, precisou de tempo para que fosse maturada de forma mais precisa por outros.
E, novamente, seguindo essa esteira, tivemos este ano, mais precisamente no dia 27 de março, um novo game que busca seu lugar ao sol dentro do gênero, ou quase isso. The First Berserker: Khazan, lançado para PS5, Xbox Series S/X e PC, e sendo o primeiro jogo AAA do estúdio sul-coreano Neople, chegou com grandes expectativas — pelo menos para mim.
Eu tive a oportunidade de testar o jogo com antecedência, e ele me deixou com um enorme gosto doce. Porém, ao jogar a versão final (que ainda não terminei), ele conseguiu me surpreender ao mostrar que era muito diferente do que eu imaginava, ao mesmo tempo em que seguia sua fórmula característica.
Inspiração na Inspiração
Como mencionado acima, sempre houve inúmeras tentativas de recriar a receita da From Software, e, na maioria delas, o resultado foi o inevitável fracasso. O interessante, no entanto, é que os estúdios que tiveram mais sucesso na emulação da fórmula foram exatamente os que buscaram se inspirar e, ao mesmo tempo, criar um formato novo — como Nioh 1 e 2, por exemplo — onde existe um foco muito maior na criação de builds, com forte peso em loot. Na verdade, Nioh conseguiu recriar tanto que, para mim, quase nem é um soulslike, mas isso é papo para outra hora.
Meu ponto é que o velho ditado “copia, só não faz igual” é muito válido para games. Foi aí que Khazan me surpreendeu. Em entrevista, o diretor do jogo, Junho Lee, descreveu seu jogo como sendo de “ação e aventura”, não como soulslike. Quando testei a beta, senti que sua declaração não fazia o menor sentido. Porém, com mais de 20 horas de jogo, estou tendendo a concordar com ele. Pois fiquei com o seguinte pensamento: “O que faz um jogo ser considerado Souls?”
Pensando no início do jogo, sinto que Khazan não sabe se apresentar. Seu começo engana os jogadores, que parecem estar prestes a receber a fórmula pronta da From novamente. Mas isso é completamente desconstruído, principalmente após a terceira fase. A partir desse ponto, Khazan mostra que é um jogo muito diferente.
Sua estrutura ainda é familiar dentro do gênero — você sabe como é, nem vou perder tempo explicando. No entanto, sua estrutura de progressão e o foco profundo no combate o afastam completamente dos jogos da From Software.
Para resumir, sinto que Khazan se assemelha muito a Nioh em sua estrutura, com uma leve inspiração no combate de Sekiro — e bem leve mesmo. Não quero entrar em detalhes sobre essa estrutura para não dar spoilers do que o jogo oferece, mas garanto que ela se afasta totalmente de Elden Ring ou Dark Souls.
Ataque, ataque e parry
O foco de Khazan é ação, assim como seu diretor disse.
Seu combate é expansivo e complexo, abrindo um leque enorme de possibilidades na criação de builds — sendo muito mais profundo que qualquer soulslike. Apesar de possuir apenas três armas, elas são exploradas ao limite da criatividade, cada uma contando com uma enorme árvore de habilidades capaz de mudar toda a dinâmica de combate. Inclusive, creio que, para uma experiência completa, vale zerar com cada arma, pois é nítido como a dinâmica de combate se altera.
Além disso, o jogo é frenético como Nioh. Ele está a 100 km/h o tempo todo, obrigando você a partir para a ofensiva, ao mesmo tempo em que exige uma perícia difícil de alcançar na parte defensiva, principalmente nos chefes (sobre os quais falarei na review do jogo que virá em breve). Perceba que usei o termo “difícil”, pois sim, Khazan é muito desafiador, indo além dos jogos de inspiração.
De forma geral, The First Berserker: Khazan se inspira muito mais nas fórmulas derivadas do soulslike do que propriamente no modelo da From — e isso é ótimo! Além disso, ele não esquece que precisa criar um fator novo para se destacar neste meio tão saturado.
É claro que essa tentativa traz defeitos, e alguns bem graves. Mas, pensando que é o primeiro grande jogo do estúdio, é assustador pensar em como eles conseguem equilibrar o melhor de vários mundos em um único jogo, trazendo um gameplay tão satisfatório e responsivo, como pouco se vê em inúmeros jogos.
Tropeça, mas é muito promissor
Como mencionei, estou com pouco mais de 30 horas de jogo. Com base nas pesquisas que fiz, acredito estar, pelo menos, na metade do jogo. Mas isso não significa muita coisa, pois ele é desafiador e a progressão sempre irá variar de jogador para jogador, além de ser extremamente denso em atividades secundárias.
Mas o fato é que The First Berserker: Khazan conseguiu fazer algo que poucos jogos conseguem atualmente, pelo menos para mim: a capacidade de ficar melhor conforme você avança.
Eu não sei o quanto esse sentimento irá durar, mas o ânimo de prosseguir é maior que minha vontade de começar. Apesar de tropeços, que serão descritos em detalhes no futuro, Khazan se mostra como um prato cheio para fãs do gênero Souls e seus derivados.
Os textos sobre de The First Berserker: Khazan só foi possível graças a uma cópia gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.